Direita: direito, reivindicação, nemesis política
Humana: ego, compaixão, imperfeição
O lanche de Natal
Hoje houve lanche de Natal na residencia do Embaixador Alemao. La fomos, nos e as Armenias, que o pessoal da festa ainda nao as tinha conhecido. Mas as minhas filhas... enfim. O Matildame resolveu ter medo daquele pessoal todo e enfiou a cabeca quase que no meu sovaco e de lá nao a tirou a tarde toda. Já a Léa, essa estava em alerta maximo, com aquela cabeca achatadita dela coitadinha a girar de um lado para o outro tipo periscópio a sondar a paisagem. Pensei, bem olha ao menos uma é sociavel. E é. A Léa estava tao à vontade, tao à vontade, tao à vontade que quando o Consul, um senhor já enrtadote de cabeleira branca e vestido a rigor, lhe veio fazer um cutchi-cutchi, ela olha para ele de sorbolho franzido, abre ligeiramente a boca e dá um ruidoso, enorme, gigantesco arroto. Depois riu-se e enfiou o punho na boca, como se nada fosse.
Grande Zach
Anda este video de boca em boca via Facebook e ponho-o tambem aqui. Porque nunca consegui concordar com quem diz que criancas tem de ser educadas por um pai e por uma mae para terem modelos masculinos e femininos (como se tais modelos so se pudessem encontrar num progenitor). E porque nunca consegui perceber quem, embora nao tenha genuinamente nada contra homosexuais, torce o nariz quando toca a homosexuais adoptarem ou terem criancas. Por isso fica aqui a mensagem do Zach, que sabe bem do que esta a falar.
Gulnaz
Nao sei se entre crises e greves alguem em Portugal ouviu falar deste caso, mas isto merece uma valente blogada. E a historia de Gulnaz, uma mulher Afega solteira de 19 anos que foi violada e engravidou. Resultado quando a gravidez comecou a notar-se, Gulnaz foi acusada de "zina" ou adulterio (na Sharia adulterio e ter relacoes sexuais com alguem com quem nao se e casado, independentemente de se ser soi-meme casado ou nao), e foi condenada a 12 anos de prisao. Ela alegou violacao e o homem que a violou foi tambem preso e condenado a 12 anos. E ficaram ambos na prisao, onde ela alias deu a luz o bebe. Nisto ha um abaixo-assinado, uma data de barulho sobre o caso e o dossier acaba na mesa de Hamid Karzai que decide gracia-la. Uma mulher Afega que e condenada por adulterio e graciada nao volta simplesmente para a sua aldeia assim como se nada fosse. Uma mulher nessa situacao corre risco de vida. Entao para garantir a sua seguranca, ela casa-se com o violador e a irma do violador (que nao tem nada a ver com isto) casa-se com o irmao da Gulnaz (que tambem nao tem nada a ver com o caso). E Gulnaz e o seu violador foram libertados.
E o Embaixador da UE em Cabul, Vygaudas Usackas, vem "aplaudir" a libertacao de Gulnaz e dizer que o caso deveria servir de exemplo para todas as outras mulheres Afegas que se encontram em semelhantes embroglios.
Aplaudir? Mas este senhor e maluco da cabeca? Nada neste caso e digno de servir de exemplo. Gulnaz nao deveria ter sido graciada, deveria ter sido absolvida ou melhor ainda a acusacao
deveria ter sido retirada. Depois, deveria ter recebido um pedido de desculpas publico. Depois, deveria ter sido libertada com garantias de seguranca decentes que nao implicassem casamentos que so anunciam futura violencia conjugal. E o violador deveria ter ficado na prisao.
Nada disto e exemplar e Usackas deveria ser chamado a Bruxelas e amordacado.
E o Embaixador da UE em Cabul, Vygaudas Usackas, vem "aplaudir" a libertacao de Gulnaz e dizer que o caso deveria servir de exemplo para todas as outras mulheres Afegas que se encontram em semelhantes embroglios.
Aplaudir? Mas este senhor e maluco da cabeca? Nada neste caso e digno de servir de exemplo. Gulnaz nao deveria ter sido graciada, deveria ter sido absolvida ou melhor ainda a acusacao

Nada disto e exemplar e Usackas deveria ser chamado a Bruxelas e amordacado.
Kigali
Kigali é hoje uma cidade em expansao, cheia de gente dinamica, com grandes ruas alcatroadas e passeios e jardins e paragens de autocarro. Onde os taxi-mota sao conduzidos por jovens em freequests e capacete que carregam tambem um capacete para clientes. E uma cidade que se estende por mais colinas que Lisboa, o que faz com que andar a pé seja nada menos que uma sessao de cardio-fitness. Talvez por ter lido até a exaustao sobre o genocídio no Ruanda, as 24h que passei em Kigali foram das mais intensas que ja vivi. Kigali é cidade-túmulo/cidade-sagrada. O luto e a lembranca estao no ar que se lá respira. A cada passo que dava pensava: quantas pessoas terao morrido neste mesmo sítio? e tentava fazer o passo leve, como que para nao atentar à memória de quem eventualmente ali tivesse caído. O olhar sobre as pessoas também é curioso: é inevitável dividir-se a populacao entre quem era vivo em 1994 e quem nao era. E é inevitável também perguntarmo-nos a nós próprios és-tu vítima ou assassino? E impressionante como é que o Ruanda se refez como país e tem vivido em paz desde 1994, aceitando a existencia de antigos agressores no seu seio (à custa, muitos dirao, de um regime político quase dictatorial). Aqui ficam algumas fotografias de Kigali:
Muro dos nomes no Memorial do Genocídio em Kigali. Notem a repeticao dos apelidos - foram famílias inteiras que desapareceram.
Piscina do Hotel Mille Collines. O hotel ficou aberto durante o genocídio e deu abrigo a milhares de Tutsis e Hutus moderados que, incapazes de sair dali, acabaram por beber a água da piscina para sobreviver (o hotel deu a história ao filme Hotel Ruanda, embora a associacao de sobreviventes do genocídio conteste a veracidade da história, em particular o alegado papel de herói que o administrador do hotel, Paul Rusesabagina, terá tido).
Do planeta Congo para o planeta Ruanda
Após uma semana de reunioes em Goma, em que o raio do Lago e o vulcao que resolveu entrar em erupcao me deixaram com mais défice de sono que as Arménias desde que nasceram, foi tempo de me fazer à estrada e iniciar as 30h de viagem que me levarao de volta a casa.
Goma fica mesmo na fronteira com o Ruanda, e o Ruanda é um país minúsculo, portanto até Kigali sao só 3h de caminho. A fronteira sao dois blocos só de rés-do-chao separados por uma cancela e uma casinhota com um guarda. Do lado Congoles, há que assinalar a partida. Vou com o passaporte até ao guichet e espero enquanto o senhor guarda transcreve à mao com uma Bic Cristal "(escrita normal") os meus dados para um enorme caderno azul, cujas páginas ostentam varias colunas (nom, prénom, date de naissance...) desenhadas à mao e régua. Devolve-me o passaporte e bon voyage. Caminho entao até ao lado Ruandes, passando por um no-man's-land onde cidadaos Congoleses fazem fila para mostrar o bilhete de identidade que lhes faculta simplesmente a entrada no país vizinho. No guichet Ruandes, há que assinalar a entrada. Preencho o formulario com uma caneta Bic Cristal ("escrita normal") que compro a uma senhora muito velhinha e com uma grande corcunda que por ali as anda a vender, empreendedora que é. Dou o formulário e o passaporte ao senhor guarda Ruandes no guichet. Nao há cadernos azuis com linhas feitas à mao aqui. Aqui há leitores de passaporte electrónicos e computadores flat screen onde a senhora guarda (o Ruanda é um país-exemplo da emancipacao feminina) rapidamente me identifica ("welcome back") e me devolve o passaporte.
Karim o chófer do IRC-Congo (a minha ONG-mae) espera-me no seu Toyota Corolla (um modelo tao ubíquo aqui como no Afeganistao, com a diferenca que aqui nao os há carragdos de explosivos). A cidade gémea de Goma do lado Ruandes chama-se Gisenyi e é um autentico resort digno da Cote d'Azur. Jardins à Inglesa, com rosas e buganvilias e relva cortadinha, uma promenade arborizada ao longo do lago - sim o mesmo raio do lago -, até há um Hotel da cadeia Serena (o que traz memórias de Cabul, onde o Serena era um oasis de paz até ao dia em que um comando de suicidas entrou por lá adentro). A beira lago, há uma praiazinha onde se refastelam tanto brancos como pretos, cada um na sua, numa igualdade com só antes tinha observado em Zanzibar e que me faz sentir imediatamente feliz.
Do Congo para o Ruanda, é como mudar de planeta. Fazemo-nos à estrada em direccao a Kigali e a primeira coisa que noto é conforto. A segunda é velocidade. A partir do primeiro milímetro de terra Ruandesa, as ruas acidentadas cheias de blocos de basalto da última erupcao do Nyiragongo que enjordou Goma inteira há uns anos, transformam-se em ruas lisas pavimentadas, daquelas que até apetece ir buscar uns patins ou um skate e andar ali às voltas a tarde inteira. E um país onde máquinas-cilindro cobrem cuidadosamente trocos de estrada menos perfeitos, enquanto uma senhora vestida de um Freequest como deve ser e armada de um radio Motorola controla o transito na faixa comum. Em Goma, um arranjo de rua que testemunhei era: camiao cisterna atrás do qual tinham adicionado um tubo de metal onde fizeram buracos (à metrelhadora?) e onde enfiaram em cada ponta meia garrafa de agua de plástico. Camiao esguicha água pelo tubo enquanto passa por cima da terra batida para a frente e para trás. Cada vez que anda para frente, mete-se metade por cima da rua perpendicular, o que obriga o transito nessa rua a parar. Como tal, para o Karim, as estradas Ruandesas sao como as pistas do Rally do Monaco.
Vruum vruuuum lá vou eu e o Karim cheios de bica no Corolla, a ouvir no rádio roufenho o relato do Ruanda-Eritreia e deparamo-nos (inevitavelmente) com outro contraste: a presenca de polícia de transito que nos obriga a parar na berma e que dá um sermao ao Karim, em tom de Diácono Remédios: 1) "entao vai assim a guiar com tanta velocidade por zonas habitadas, amigo? Nao pode ser..." (e o Karim olha para baixo e murmura um desculpa) 2)"entao anda assim sem cinto de seguranca nem nada? olhe para ela (aponta para mim) tá a ver que ela tem-no posto como deve ser..." (e o Karim lá vagarosamente passa o cinto de seguranca pelo peito e fica a agarra-lo discretamente dentro do encaixe (que nao clica, claro está, partido que está há anos). Avisados lá seguimos - o cinto de seguranca do Karim voou claro está de volta para onde veio.
Outro grande contraste entre o Ruanda e o Congo é que o Ruanda é um país minúsculo e apinhado de gente. Nao há espaco vago, ou se constrói ou se cultiva. Intensamente. E é gente e gente e gente por todo o lado. Uma das razoes pela qual tanto sangue jorrou em 1994. Pela estrada que seguimos de Goma para Kigali, no Verao de 1994, assistia-se, em sentido contrário, a um exodo digno de Seringueti no mes de Dezembro, quando milhares e milhares de Hutus fugiram para o Congo depois de terem metodicamente assassinado quase 1 milhao dos seus compatriotas. Numa ironia macabra que porá para sempre deshonra na bandeira das Nacoes Unidas, os que fugiram para o Congo instalaram-se em campos de refugiados já preparados e cheios de agencias da ONU e de ONGs internacionais, no que foi uma das maiores operacoes humanitárias do século. Isto no rescaldo imediato de 100 dias de genocídio que teriam sido evitados se a ONU tivesse mandado 5,000 capacetes de reforco ao General Dallaire, comandante da UNAMIR, a missao de "paz" no Ruanda, e se o tivesse autorizado a desmantelar redes de armazenamento de armas que se estavam a formar em todo o Ruanda e a abrir fogo para proteger civis. Mas nao, Dallaire recebeu ordem de se limitar estritamente ao seu mandato de observador do "cessar-fogo".


Goma fica mesmo na fronteira com o Ruanda, e o Ruanda é um país minúsculo, portanto até Kigali sao só 3h de caminho. A fronteira sao dois blocos só de rés-do-chao separados por uma cancela e uma casinhota com um guarda. Do lado Congoles, há que assinalar a partida. Vou com o passaporte até ao guichet e espero enquanto o senhor guarda transcreve à mao com uma Bic Cristal "(escrita normal") os meus dados para um enorme caderno azul, cujas páginas ostentam varias colunas (nom, prénom, date de naissance...) desenhadas à mao e régua. Devolve-me o passaporte e bon voyage. Caminho entao até ao lado Ruandes, passando por um no-man's-land onde cidadaos Congoleses fazem fila para mostrar o bilhete de identidade que lhes faculta simplesmente a entrada no país vizinho. No guichet Ruandes, há que assinalar a entrada. Preencho o formulario com uma caneta Bic Cristal ("escrita normal") que compro a uma senhora muito velhinha e com uma grande corcunda que por ali as anda a vender, empreendedora que é. Dou o formulário e o passaporte ao senhor guarda Ruandes no guichet. Nao há cadernos azuis com linhas feitas à mao aqui. Aqui há leitores de passaporte electrónicos e computadores flat screen onde a senhora guarda (o Ruanda é um país-exemplo da emancipacao feminina) rapidamente me identifica ("welcome back") e me devolve o passaporte.
Karim o chófer do IRC-Congo (a minha ONG-mae) espera-me no seu Toyota Corolla (um modelo tao ubíquo aqui como no Afeganistao, com a diferenca que aqui nao os há carragdos de explosivos). A cidade gémea de Goma do lado Ruandes chama-se Gisenyi e é um autentico resort digno da Cote d'Azur. Jardins à Inglesa, com rosas e buganvilias e relva cortadinha, uma promenade arborizada ao longo do lago - sim o mesmo raio do lago -, até há um Hotel da cadeia Serena (o que traz memórias de Cabul, onde o Serena era um oasis de paz até ao dia em que um comando de suicidas entrou por lá adentro). A beira lago, há uma praiazinha onde se refastelam tanto brancos como pretos, cada um na sua, numa igualdade com só antes tinha observado em Zanzibar e que me faz sentir imediatamente feliz.
Do Congo para o Ruanda, é como mudar de planeta. Fazemo-nos à estrada em direccao a Kigali e a primeira coisa que noto é conforto. A segunda é velocidade. A partir do primeiro milímetro de terra Ruandesa, as ruas acidentadas cheias de blocos de basalto da última erupcao do Nyiragongo que enjordou Goma inteira há uns anos, transformam-se em ruas lisas pavimentadas, daquelas que até apetece ir buscar uns patins ou um skate e andar ali às voltas a tarde inteira. E um país onde máquinas-cilindro cobrem cuidadosamente trocos de estrada menos perfeitos, enquanto uma senhora vestida de um Freequest como deve ser e armada de um radio Motorola controla o transito na faixa comum. Em Goma, um arranjo de rua que testemunhei era: camiao cisterna atrás do qual tinham adicionado um tubo de metal onde fizeram buracos (à metrelhadora?) e onde enfiaram em cada ponta meia garrafa de agua de plástico. Camiao esguicha água pelo tubo enquanto passa por cima da terra batida para a frente e para trás. Cada vez que anda para frente, mete-se metade por cima da rua perpendicular, o que obriga o transito nessa rua a parar. Como tal, para o Karim, as estradas Ruandesas sao como as pistas do Rally do Monaco.
Vruum vruuuum lá vou eu e o Karim cheios de bica no Corolla, a ouvir no rádio roufenho o relato do Ruanda-Eritreia e deparamo-nos (inevitavelmente) com outro contraste: a presenca de polícia de transito que nos obriga a parar na berma e que dá um sermao ao Karim, em tom de Diácono Remédios: 1) "entao vai assim a guiar com tanta velocidade por zonas habitadas, amigo? Nao pode ser..." (e o Karim olha para baixo e murmura um desculpa) 2)"entao anda assim sem cinto de seguranca nem nada? olhe para ela (aponta para mim) tá a ver que ela tem-no posto como deve ser..." (e o Karim lá vagarosamente passa o cinto de seguranca pelo peito e fica a agarra-lo discretamente dentro do encaixe (que nao clica, claro está, partido que está há anos). Avisados lá seguimos - o cinto de seguranca do Karim voou claro está de volta para onde veio.
Outro grande contraste entre o Ruanda e o Congo é que o Ruanda é um país minúsculo e apinhado de gente. Nao há espaco vago, ou se constrói ou se cultiva. Intensamente. E é gente e gente e gente por todo o lado. Uma das razoes pela qual tanto sangue jorrou em 1994. Pela estrada que seguimos de Goma para Kigali, no Verao de 1994, assistia-se, em sentido contrário, a um exodo digno de Seringueti no mes de Dezembro, quando milhares e milhares de Hutus fugiram para o Congo depois de terem metodicamente assassinado quase 1 milhao dos seus compatriotas. Numa ironia macabra que porá para sempre deshonra na bandeira das Nacoes Unidas, os que fugiram para o Congo instalaram-se em campos de refugiados já preparados e cheios de agencias da ONU e de ONGs internacionais, no que foi uma das maiores operacoes humanitárias do século. Isto no rescaldo imediato de 100 dias de genocídio que teriam sido evitados se a ONU tivesse mandado 5,000 capacetes de reforco ao General Dallaire, comandante da UNAMIR, a missao de "paz" no Ruanda, e se o tivesse autorizado a desmantelar redes de armazenamento de armas que se estavam a formar em todo o Ruanda e a abrir fogo para proteger civis. Mas nao, Dallaire recebeu ordem de se limitar estritamente ao seu mandato de observador do "cessar-fogo".



Em directo de Lumumbashi
Ontem à noite, reportagem em directo no telejornal daqui do Congo (empregados do restaurante todos colados a TV):
"Oui, nous pouvons confirmer... nous pouvons confirmer... oui, c'est en effect Joseph Kabila lui-meme... Joseph Kabila Kabange en personne qui arrive pour saluer la foule ici a Lumumbashi. Il porte une simple chemise, pas de cravate... Il est accompagne de sa femme, Mme Lembe di Sita. Il apparait calme et detendu, habillé avec une chemise a rayures, il marche lentement... Il salue la foule calmement, habillé simplement d'une chemise."
Colei-me eu propria a TV:
1) para ver se ele estava so de camisa ou se tambem tinha calcas
2) para ver se ainda acontecia algum coup de theatre e atentavam à vida do homem, de tal maneira o jornalista estava impressionado com a calma do presidente, a tres semanas das eleicoes, no meio do maralhal.
Esta reportagem estava na realidade cheia de reflexos da era Mobutu: um presidente que quase nunca aparecia em publico, e que nunca, nunca, andaria em mangas de camisa, sem meio leao pelos ombros e pele de leopardo no chapeu.
"Oui, nous pouvons confirmer... nous pouvons confirmer... oui, c'est en effect Joseph Kabila lui-meme... Joseph Kabila Kabange en personne qui arrive pour saluer la foule ici a Lumumbashi. Il porte une simple chemise, pas de cravate... Il est accompagne de sa femme, Mme Lembe di Sita. Il apparait calme et detendu, habillé avec une chemise a rayures, il marche lentement... Il salue la foule calmement, habillé simplement d'une chemise."
Colei-me eu propria a TV:
1) para ver se ele estava so de camisa ou se tambem tinha calcas
2) para ver se ainda acontecia algum coup de theatre e atentavam à vida do homem, de tal maneira o jornalista estava impressionado com a calma do presidente, a tres semanas das eleicoes, no meio do maralhal.
Esta reportagem estava na realidade cheia de reflexos da era Mobutu: um presidente que quase nunca aparecia em publico, e que nunca, nunca, andaria em mangas de camisa, sem meio leao pelos ombros e pele de leopardo no chapeu.
O lago... O raio do lago...
Nao sao os genocidaires que por aqui rondam desde que fugiram a sete pes do Rwanda em 1994 com os avancos dos gajos de Paul Kagame.
Nao sao os malucos dos Mai-Mai que bebem sangue humano porque acham que os torna invenciveis.
Nem sao os dois vulcoes mesmo aqui atras que roncam demasiado frequentemente e que volta e meia mandam a lava mais rapida do mundo toda de rojo ca para baixo.
E o lago, pa! E o sacano do lago que me mete um medo do Camane! Um lago gigante que mais parece um mar, assente, tipo cartoon destraido, em cima de uma gigantesca bolha de gas Metano. Sim, porque isto ha que dizer as coisas como elas sao: um dia o raio do lago peida-se e mata tudo a volta (por asfixia).
Nao sao os malucos dos Mai-Mai que bebem sangue humano porque acham que os torna invenciveis.
Nem sao os dois vulcoes mesmo aqui atras que roncam demasiado frequentemente e que volta e meia mandam a lava mais rapida do mundo toda de rojo ca para baixo.
E o lago, pa! E o sacano do lago que me mete um medo do Camane! Um lago gigante que mais parece um mar, assente, tipo cartoon destraido, em cima de uma gigantesca bolha de gas Metano. Sim, porque isto ha que dizer as coisas como elas sao: um dia o raio do lago peida-se e mata tudo a volta (por asfixia).
Sabado-Domingo-Segunda
Nova Iorque - Amesterdao
Amesterdao - Kigali
Kigali - Goma!
Entre o vulcao Nyirangongo e o Lago Kivu. Ha anos e anos que queria la ir, uma vontade que so o H. percebe. E como tal a viagem concretiza-se mesmo neste periodo mais que improvavel das nossas vidas!
Amesterdao - Kigali
Kigali - Goma!
Entre o vulcao Nyirangongo e o Lago Kivu. Ha anos e anos que queria la ir, uma vontade que so o H. percebe. E como tal a viagem concretiza-se mesmo neste periodo mais que improvavel das nossas vidas!
Back to work
12 semanas de licenca de maternidade (a adicionar as 6 semanas de estado cetaceo em que trabalhei de casa) e estava em pulgas para re-entrar na vida activa como deve ser. Com as horas de ponta, as multidoes a correrem passeios acima e passeios abaixo entre os arranha-ceus de Midtown, a ONU, os diplomatas, as reunioes de equipa, os relatorios de missoes no terreno por comentar e alinhavar... As Armenias sao the best, adoro-as mais que tudo, mas mere au foyer nao conseguia ser. Sei que ha quem escolha isso, mas sinto-me a galaxias de distancia de quem o faz. Nao consigo conceber viver assim por escolha; ver o tempo passar em que elas crescem e eu so envelheco. Uma pessoa torna-se espectadora do mundo. Gostei de passar tempo com elas, gostei de poder recuperar do armaggedon fisico que por aqui passou sem stresses, mas gostei porque tinha uma data limite. Agora e tempo de recriarmos a nossa rotina. E tempo delas aprenderem a ter os dias delas (a independencia delas?) com mais gente que nao a mae. E ao fim do dia reencontramo-nos e trocamos ideias entre banhos e refeicoes e cancoes de embalar. Poder ser eu independentemente delas e a minha maneira de ser mae.
Damage assessment
Estou oficialmente fora do periodo pos-parto. Posso correr, saltar, nadar, andar a cavalo, fazer ski, escalada, pegar em halteres etc. Mas isto tudo jà nao é o que era. As Arménias sao uns amores, mas o que é certo é que me estraguei toda com esta brincadeira. A zona sub-abdominal tem para sempre uma cicatriz tipo "para abrir, siga o picotado", a zona abdominal parece Verdun em 1916, com estrias tao profundas que podiam ser usadas como trincheiras por mini soldados (aliados). Muito cremei eu a dita zona, que estava linda, reluzente, liza e suave em toda a sua convexidade ate ao mes de Junho quando, de repente, tudo explodiu. Os dedos da mao desincharam, sim, jà nao perecem um molho de salsichas. Mas as articulacoes devem ter expandido porque a alianca, que tirei hà 4 meses atras, esquece! - nao passa nem da metade do dedo. Tenho que alargar permanentemente. O pelame em sitios do no corpo que nao lembra ao diabo nao caiu - macaca estava, macaca fiquei. O borbulhame, idem idem aspas aspas. Mas o mais intrigante sao os pés. Incharam de maneira apocaliptica em Maio, de tal forma que deixei de entrar em sapatos. Para andar, so chanato. Os pés la desincharam, mas so para revelar o facto de terem aumentado de comprimento. Sim, passei de 38 para 40. Anos de coleccionamento de sapatos e botas lindas cano abaixo. Nao ha nada a fazer.

1 mes
Sobrevivemos ao primeiro mes das Armenias. Estamos cansados, sim, mas nada disto e o apocalipse que nos tinham agoirado inumeras Cassandras. Para já, recuperar de uma cesariana (nao havendo complicacoes) nao me parece nada por ai alem. A dor é chata mas aguenta-se e ao fim de uns dias ja e so uma impressao. Consigo andar desde primeiro dia e idas a casa de banho nao me deixam em lagrimas como me foi dito e redito tanta vez. Com tanto alarmismo, antes de elas nascerem, contratámos uma "doula" (pessoa que cuida de bebes) para vir cá a casa 2 vezes por semana durante as tres primeiras semanas. No inicio ajudou porque respondeu ao diluvio de perguntas que tinhamos, mas à terceira semana ja nao sabiamos o que fazer com ela entao pusémo-la de baby-sitter e fomos a piscina, a pedicure, ver o Harry Potter... Nao temos a casa de pantanas, nem fraldas e roupa de bébé pelos cantos. Nao temos uma pilha de roupa para lavar e nao andamos tipo zombies de pijama e mal lavados o dia todo. Vamos passear quase todos os dias, já fomos jantar fora (com elas assim cedinho), já nos revezamos para ir um tomar um copo com amigos a noite, já organizamos jantares e brunches ca em casa e hoje vamos fazer um passeio de carro pelo vale do Hudson para ver se elas gostam. Se a coisa correr bem, para a semana vamos todos passar uns dias a Washington DC. Nem acho que elas sejam particularmente fáceis de aturar. A Matilde é arraçada de suino porque está constantemente cagadinha tadinha, quase que é preciso dar-lhe banho a cada muda de fralda. A Léa é uma sofrega a comer que até faz aflicao: se uma pessoa nao controlar a coisa com cuidado, ela praticamente inala o leite e depois nao arrota e fica com solucos e acaba por vomitar metade para fora. Mas a verdade e que passam a maioria do tempo a dormir. Ajuda sermos dois e ajuda o facto de elas comerem por biberon (meio leite meu, meio leite em po), mas nao percebo o pessoal que ao minimo sinal de parto eminente enlista logo um exercito de ajudantes a tempo inteiro. Ter gente a volta para fazer companhia percebo, mas a necessidade de ter 500 pares de bracos prontos a arregacar as mangas, nao. A jovem com quem partilhei o quarto no hospital disse que ia ter a mae e a irma em casa o tempo todo e depois a irma e a sogra e isto para 1 bébé somente veja-se... Dada a completa falta de necessidade que temos de ter ajuda extra, já várias vezes nos perguntámos se estamos, sem querer, a dar cabo da saude e desenvolvimento das nossas filhas. O tempo dirá!
100% mistério
A descricao da Léa (pronunciar "Lê-a" e nao "Leia") levou tanto tempo porque ela é 100% mistério. Aos 4 dias de vida, ja levantava a cabeca com uma forca de pescoco vinda nao sei de onde, mas que jà sentia quando a tinha cà dentro e ela fazia o que chamava de "movimento do dragao" (uma guinada que me criava uma protuberancia em ràpido movimento barriga acima - bastante desconcertante). Foi ela que ficou resolutamente de cabeca para cima a gravidez toda. Tem os cabelos constantemente em pé, um esgar assim de viés e està sempre de lingua meia de fora. Dorme com um olho meio aberto, toda esfalfada na cama de bracos para cima, mais em pose de conquista do que de maos-ao-ar. So chora quando està com fome ou desconfortavel, de resto està sempre na dela. Tem uma cara que so posso descrever como estranha, e digo isto com todo o infinito amor de mae que tenho por ela. Passo horas a olhar para ela a tentar fazer sentido de tanto traco curioso e sei que, como quer que se desenvolva, nao passarà despercebida no Mundo. E por isso leva aqui varias fotos e aqui o link para a musica que lhe deu o nome quando ainda estava cà dentro. Ja na altura era "indéfinissable"

100% princesa
A Matilde tem uma carinha perfeitinha, olhos grandes em forma de amendoa, ligeiramente obliquos, que um dia ficarao a matar com um eyeliner e rimel bem aplicados. Adora o colo do seu pai, para quem fica a olhar minutos sem fim. Nao chora so quando tem a fralda suja, tem calor frio ou fome. Chora tambem quando pensa que esta sozinha (basta um de nos dizer "Matilde!" e ela cala-se logo) e quando quer que lhe peguem ao colo. A Matilde e 100% princesa: adoravel e "high maintenance".
Shabat Shalom
O meu hospital e o hospital da Universidade de Nova Iorque. Nao sei porque, uma enorme proporcao de doentes/clientes aqui sao Judeus ortodoxos. E estranho, tendo em conta que ha aqui hopsitais chamados "Mount Sinai" e "Beth Israel", mas ok. Elas usam peruca, meias opacas, saia por baixo do joelho e camisa de mangas compridas, em tons de preto e preto. Eles usam fatos tambem pretos, casacos compridos, barba, e chapeu. Para mim sao como imagens de um tempo passado, mas a verdade e que em Nova Iorque ve-se tantos Judeus ortodoxos como gajos com bone dos Yankees.
Hoje e Sabado, dia de descanso completo para os Judeus - qualquer esforco fisico e proibido. Sempre me perguntei se a Torah faz uma excepcao para mulheres em trabalho de parto ou se a regra e interpretada dentro de parametros racionais. Foi entao que reparei num folheto informativo colado na porta de um dos elevadores: em observacao do Shabat, o elevador numero 1 vai automaticamente ate ao ultimo andar e dai desce parando em todos os andares. Para nao haver necessidade, claro esta, de fazer o esforco de tocar no botao.
Face a situacao do botao de elevador, suspeito que a Torah codifique regras especificas para o quebra-cabecas que e uma mulher Judia entrar em trabalho de parto num Sabado. Nao fosse o marido dizer "nao, nao! nao facas forca que hoje e Sabado". E uma cultura estranhissima.
Hoje e Sabado, dia de descanso completo para os Judeus - qualquer esforco fisico e proibido. Sempre me perguntei se a Torah faz uma excepcao para mulheres em trabalho de parto ou se a regra e interpretada dentro de parametros racionais. Foi entao que reparei num folheto informativo colado na porta de um dos elevadores: em observacao do Shabat, o elevador numero 1 vai automaticamente ate ao ultimo andar e dai desce parando em todos os andares. Para nao haver necessidade, claro esta, de fazer o esforco de tocar no botao.
Face a situacao do botao de elevador, suspeito que a Torah codifique regras especificas para o quebra-cabecas que e uma mulher Judia entrar em trabalho de parto num Sabado. Nao fosse o marido dizer "nao, nao! nao facas forca que hoje e Sabado". E uma cultura estranhissima.
Resolucao 1998 (2011) do Conselho de Seguranca da ONU
Meses e meses e meses de preparacao e lobby e reviravoltas diplomaticas de ultima hora que nos mantiveram em suspenso a semana passada, culminaram hoje na Resolucao 1998 que expande os criterios para a inclusao de grupos armados na "lista negra" do Conselho de Seguranca a ataques contra escolas e hospitais (ou contra alunos, professores e pessoal medico). A Resolucao reforca tambem a imposicao de sancoes contra grupos armados que cometem violacoes contra criancas em conflito.
Se quizerem saber mais, podem ir ver a pagina do nosso website sobre esta questao (fui eu que a escrevi!).
Se quizerem saber mais, podem ir ver a pagina do nosso website sobre esta questao (fui eu que a escrevi!).
O nó na garganta
Ontem a noite, no Estado de Nova Iorque

Andrew Cuomo, Governor do Estado de Nova Iorque, assina a lei que autoriza o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Duracell
32 semanas
Mas com tamanho de 40 semanas... Passada estou de estado paquidérmico a estado cetáceo. Só que nao ando a curtir a leveza que traz a água, ando a arrastar-me por terra, sujeita a calor e gravidade e ao tempo que passa as vezes tao devagar. E toda eu cresço, cresço, cresço, com trejeitos vindos sei lá de onde, calcanhares sem cerimónias costelas acima e punhos estendidos revolucionariamente umbigo acima. Basicamente, nas palavras do Mário de Sá Carneiro:
Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro
Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro
Terceiro trimestre
20 anos no sistema de ensino Frances tatuaram-me a vida em ciclos de tres trimestres. "Nerdzinha" como eu era, sempre gostei do terceiro trimestre. Sempre simbolizou o fim do esforco, a sensacao de um trabalho bem feito, o tempo da recompensa.
Espero que este terceiro trimestre faça juz a essa tradicao!
Espero que este terceiro trimestre faça juz a essa tradicao!
Mazaris, o que é que fizeram?
Imagino a mensagem dos servicos de seguranca, instruindo a todos que limitem as deslocacoes na cidade durante o dia de sexta-feira, dado que se esperam manifestacoes depois das rezas do meio-dia. Imagino os meus colegas e amigos a pensarem "oh outra vez, que chatice, sempre que o idiota do padre resolve queimar mais um corao é a mesma coisa". Hà os que decidem ficar por casa (apesar de tudo, sexta-feira é dia de descanso no Afeganistao), outros vao para o escritorio cedinho cedinho para adiantar trabalho, armados de tupperwares com almoco jà preparado, dado que vao ter de ficar là o dia todo por causa das restricoes de movimento. Imagino o sms dos servicos de seguranca, apos as rezas do meio-dia, anunciando que os manifestantes se estao a dirigir para o escritorio da ONU e que hà elementos violentos no grupo, e dando a instrucao a todos que nao se desloquem para a area e que mais noticias virao. Imagino de repente a chuva de sms "tiros em frente ao escritorio da ONU", "manifestantes dentro do escritorio da ONU - baixas possiveis" e a declaracao "Mazar white city" -ninguém poe o nariz na rua, staff de seguranca lanca apelos a todos para confirmar onde cada um està. Imagino o trafego ininterrompido de mensagens via VHS. Imagino a luz vermelha de todos os walkie-talkies a piscar e a rede de emergencia a transmitir o que se passa a todo o momento à volta de quem accionou o botao vermelho - provavelmente um dos que resolveu ir para o escritorio. Imagino as vozes desesperadas transmitidas pela rede de emergencia. Imagino a impotencia e incredulidade de quem està a ouvir. Nao quero imaginar o que é espreitar là fora e ver os corpos mortos dos guardas Nepaleses da entrada e um grupo de pessoas furiosas arrombar-me a porta do quarto em que me escondi com os meus colegas e apontar-me uma arma à cara.
Meio caminho andado
Carrinhas amarelas
Fomos explorar Red Hook, em Brooklyn, este fim de semana. É lá que, como diria o meu sobrinho Pedro, os autocarros dormem. Estas sao carrinhas das escolas. Vi-as pela primeira vez nas ruas de Mazar-e-Sharif e sempre pensei que eram vestígios de um passado idílico de mochilas rectangulares com fivelas, cabelos penteadinhos, botins e meias até ao joelho e sacos de berlindes. Mas nao, ainda as há. E antes de as deixarem neste gigantesco parque de estacionamento, os condutores verificam que nao haja criancas adormecidas esquecidas no banco de trás (atentai no papel que se vê na janela da última foto)


Dia internacional da mulher
Nao sou feminista. Gosto dos meus sutias, gosto de pintar as unhas, nao me importo que o acordo dos adjectivos se faca pelo masculino, nem que se diga "direitos do homem", e movo montanhas so para poder estar ao lado do meu homem, sem o qual, assumidamente, a minha vida teria pouco sentido. Nao sou feminista, no sentido em que nao vejo as mulheres em geral como seres super-humano(a!)s, mais capazes e uteis que homens. Acho que se homens tivessem utero e vagina, tambem eles seriam conseguiriam aguentar as dores do parto. Vidas dificeis todos podemos ter, sejamos homens ou mulheres, e entre a mulher que trabalha, trata da casa e cria filhos sem ajuda de ninguem e ainda leva do marido por cima de tudo ou o homem (ou rapaz) que tem mulher, filhos mas tambem pais e avos para alimentar, e faz fila antes do sol nascer, todos os dias, na esperanca de conseguir um trabalho diario a acartar pedras para fora e para dentro de uma mina por um "salario" que mal da para comida e ainda e roubado regularmente no caminho para casa, que tem que fazer a pe sozinho e ja depois do por do sol... veja o diabo e escolha.
Mas acredito na igualdade de direitos. Que uma mulher tenha tanto direito quanto um homem a receber uma heranca, a ser proprietaria de uma terra ou de uma casa. Que o testemunho de uma mulher valha tanto quanto o de um homem. Que o salario de uma mulher seja igual ao de um homem com as mesma qualificacoes e no mesmo posto. Que uma mulher tenha tanto direito quanto um homem a decidir casar-se ou divorciar-se ou viajar ou estudar. Que uma mulher tenha tanto direito a ter prazer sexual quanto um homem tem. E como vi com os meus proprios olhos que isto nao acontece em todo o lado, marco o dia internacional da mulher. E este ano fi-lo com uma doacao e umas compras ao projecto Global Goods Partners, que faz o marketing de produtos feitos por cooperativas de mulheres em varios paises (piqueno a parte para quem quer ja comecar a mima-las: as Armenias adorariam qualquer um dos pins que por la se vendem), e faco-o com este video: o poema "Still I rise"dito pela Maya Angelou (autora e activista de direitos humanos Americana) .
Mas acredito na igualdade de direitos. Que uma mulher tenha tanto direito quanto um homem a receber uma heranca, a ser proprietaria de uma terra ou de uma casa. Que o testemunho de uma mulher valha tanto quanto o de um homem. Que o salario de uma mulher seja igual ao de um homem com as mesma qualificacoes e no mesmo posto. Que uma mulher tenha tanto direito quanto um homem a decidir casar-se ou divorciar-se ou viajar ou estudar. Que uma mulher tenha tanto direito a ter prazer sexual quanto um homem tem. E como vi com os meus proprios olhos que isto nao acontece em todo o lado, marco o dia internacional da mulher. E este ano fi-lo com uma doacao e umas compras ao projecto Global Goods Partners, que faz o marketing de produtos feitos por cooperativas de mulheres em varios paises (piqueno a parte para quem quer ja comecar a mima-las: as Armenias adorariam qualquer um dos pins que por la se vendem), e faco-o com este video: o poema "Still I rise"dito pela Maya Angelou (autora e activista de direitos humanos Americana) .
O meu trabalho
Foram meses de intensa procura e muita muita sorte para obter uma autorizacao de trabalho aqui, mas re-entrei finalmente na vida activa, reatando os lacos com uma questao que tenho tanto a peito desde os tempos no Darfur: as criancas em contexto de conflito. Na altura, juntamente com um grupo de advogados genial, lidei com menores em contacto com a justica - miudos armados que matavam outros miudos armados, miudas violadas chamadas a testemunhar num contexto em que vitimas de violacao eram (e sao) consideradas "impuras" e criancas deslocadas pelo conflito, separadas das suas familias, que, inevitalvelmente se tornavam delinquentes. Conseguimos, na altura, obter alternativas a sentencas de privacao de liberdade para delinquentes, separar menores de adultos quando em detencao, e treinamos assistentes sociais que comecaram a trabalhar com os advogados para acompanhar, preparar e proteger qualquer crianca que se visse em contacto com a lei, quer fosse como reu, vitima ou testemunha.
Estou agora com uma ONG chamada Watchlist on Children and Armed Conflict, cuja a base de trabalho e a historica Resolucao 1612 do Conselho de Seguranca da ONU, que, em 2005, criou um mecanismo unico de monitorizacao e resposta a violacoes de direitos da crianca em contexto de conflito. Falamos aqui de seis principais violacoes em contexto de conflito armado: 1) morte ou mutilacao de criancas ; 2) recrutamento de criancas por exercitos regulares ou grupos rebeldes ; 3) violacao e abuso sexual de criancas ; 4) rapto de criancas; 5) ataques contra escolas e hospitais; 6) bloqueamento de acesso a ajuda humanitaria. O mecanismo de monitorizacao e unico no sentido em que criou um grupo de trabalho especifico sobre criancas em conflito no Conselho de Seguranca (grupo presidido pela Alemanha!) e na medida em que o Secretario-Geral da ONU, atraves da sua Representante Especial, submete ao Conselho de Seguranca um relatorio annual com dois anexos que listam os nomes de todos os grupos ou exercitos contra os quais ha provas em relacao as violacoes nos. 1), 2) e 3). E com isso vem um rol de accoes mais ou menos eficientes: desde resolucoes a condenar tais accoes a sancoes contra individuos (contas congeladas, restricoes de viagem) e envio de informacao para o Tribunal Penal Internacional. No terreno, o mecanismo de monitorizacao lancou uma enorme expansao das unidades de proteccao da crianca que, trabalhando com parceiros locais, registam casos, reforcam a assistencia às vitimas e negoceiam com exercitos ou grupos rebeldes para obter, entre outras coisas, a desmobilizacao de criancas soldados. Pode parecer estranho, mas nem exercitos nem grupos rebeldes gostam de estar "listados" no Conselho de Seguranca e fazem realmente passos para remediar a situacao e ser "deslistados". Centenas e centenas de criancas detidas ou afiliadas com grupos armados já foram libertadas e reintegradas na vida civil.
A ONG onde estou a trabalhar, é uma entidade independente com optimas relacoes com o Conselho de Seguranca, com a Representante Especial e também com uma rede de organizacoes locais em vários países. Por um lado damos assistência técnica e financeira a tais organizacoes para que consigam recolher informacao de maneira sistematica e, por outro lado, analizamos e encaminhamos essa informacao até ao Conselho de Seguranca. O grande objectivo para este ano é a extensao do processo listagem a individuos ou grupos que conduzem ataques contra escolas e hospitais (violacao no. 5)) e desenvolvermos parcerias com organizacoes no Afeganistao.
Somos uma equipa de quatro aqui em Nova Iorque e eu sou responsável pela comunicacao interna e externa da organizacao, pela procura de financiamento e pela pesquiza de informacao para accoes de lobby lideradas pela Directora.
A ONG onde estou a trabalhar, é uma entidade independente com optimas relacoes com o Conselho de Seguranca, com a Representante Especial e também com uma rede de organizacoes locais em vários países. Por um lado damos assistência técnica e financeira a tais organizacoes para que consigam recolher informacao de maneira sistematica e, por outro lado, analizamos e encaminhamos essa informacao até ao Conselho de Seguranca. O grande objectivo para este ano é a extensao do processo listagem a individuos ou grupos que conduzem ataques contra escolas e hospitais (violacao no. 5)) e desenvolvermos parcerias com organizacoes no Afeganistao.
Somos uma equipa de quatro aqui em Nova Iorque e eu sou responsável pela comunicacao interna e externa da organizacao, pela procura de financiamento e pela pesquiza de informacao para accoes de lobby lideradas pela Directora.
Para quem tenha lido isto tudo até ao fim: vai um cafuné e assim já nao pode dizer que nao sabe o que ando a fazer.
Lindas de morrer
Arménia A

Pela a ausência de coisito a penduricar e pelas duas muito claras e definidas linhas entre as pernas, parece que os Arménios sao Arménias.
Ah e estamos também mais descansados por vermos que parecem ter combatido a horrível heranca genética da falta de queixo. O mesmo nao se poderá talvez dizer da penca gigante, dada nao somente a heranca genética, como também o trabalho do polegar no nariz que estará com certeza a aumentar o diâmetro daquelas narinas já in-útero. Pelo menos na Arménia B.
Nao resisto
O meu objecto de escárnio preferido, os leitores-comentadores do Público online, está hoje no seu melhor.
Anónimo de Setúbal diz: "Se o Egito é uma ditadura como foi possível um povo aguentar 30 anos sem se manifestar?". - Bela tautologia.
Papagaio, situado "por aí", enfurece-se com outro comentador: "(...) comparar o que se passou no Irao com o que se passa no Egipto! No Irao eram os betinhos que manifestavam, pouca gente saiu à rua." - Realmente os betinhos da elite urbana de Teerao eram MESMO quem estava contra o Shah.
Anónimo de Setúbal diz: "Se o Egito é uma ditadura como foi possível um povo aguentar 30 anos sem se manifestar?". - Bela tautologia.
Papagaio, situado "por aí", enfurece-se com outro comentador: "(...) comparar o que se passou no Irao com o que se passa no Egipto! No Irao eram os betinhos que manifestavam, pouca gente saiu à rua." - Realmente os betinhos da elite urbana de Teerao eram MESMO quem estava contra o Shah.
Ai minha nossa senhora da Azóia, homem!
O mais incrível é que a primeira parte do discurso do Mubarak, ontem, teria sido um perfeito e eloquente canto do cisne. Mas o gajo chegou ali ao ponto fulcral e enveredou pelo lado errado da História...
E já nao posso com os comentários da CNN. Esta gente acha-se mesmo o centro do mundo. É tudo a conferenciar sobre o que o Obama devia ou nao dizer e fazer em relacao ao Egipto. Quanto mais ele disser e fizer mais desapropria os Egípcios - que têm forca e garra que chegue, muito obrigada - de um movimento que é genuinamente deles, e mais enfurece aquele velho leao que tanto jeito lhes fez durante 30 anos.
E já nao posso com os comentários da CNN. Esta gente acha-se mesmo o centro do mundo. É tudo a conferenciar sobre o que o Obama devia ou nao dizer e fazer em relacao ao Egipto. Quanto mais ele disser e fizer mais desapropria os Egípcios - que têm forca e garra que chegue, muito obrigada - de um movimento que é genuinamente deles, e mais enfurece aquele velho leao que tanto jeito lhes fez durante 30 anos.
Arménios
Em Novembro, re-descobri o genial e intemporal CD do Rui Veloso "Mingos & os Samurais". Lembra-me a minha infância. A minha irma Mary, mínima, que nao sabia dizer os "Rs" e que se enervava vermelhamente quando lhe respondíamos "o quê? o prometido é de vidro?" (naaaao, nao é de vido é deviiiiido). E no curso desse mês enchi a cabeca e os ouvidos do H com as inenarráveis histórias do Norte de Portugal que conta aquele CD. De longe, a minha música preferida é "Arménio, o trolha de areosa". Aquele que se poe em estado de euforia com as meias pretas da sua madrinha de guerra, a quem escreve aerogramas cheios de erros de ortografia e a quem prometeu levar a Lisboa em Junho, o que nao aconteceu porque acabou por nao voltar do capim. Arménio encheu a nossa casa de som muitas, muitas vezes em Novembro.
Foi também nessa altura que descobrimos que a nossa vida ia mudar. Vou ser mae e que o H vai ser pai. E automaticamente, a coisa misteriosa que aqui cresce passou a chamar-se Arménio. Umas semanas mais tarde, descobrimos que afinal nao é uma, sao duas coisas que para aqui estao a crescer: os Arménios. Ou "Arrrméniosh" como diz o H.
Foi também nessa altura que descobrimos que a nossa vida ia mudar. Vou ser mae e que o H vai ser pai. E automaticamente, a coisa misteriosa que aqui cresce passou a chamar-se Arménio. Umas semanas mais tarde, descobrimos que afinal nao é uma, sao duas coisas que para aqui estao a crescer: os Arménios. Ou "Arrrméniosh" como diz o H.
Sounde-traque
Porque nao quero aprender a letra do Funáná da Bicharada, nem a do genérico do Ruca, e porque o mundo tem demasiada música boa para termos que andar nós a cantarolar, faremos, quais disque-jócas, uma lista de músicas, assim como que uma sounde-traque para vários momentos do dia em que os Arménios precisem de inspiracao. Atentai ali à direita. Há tantas, tantas a adicionar e sugestoes sao bemvindas, mas sujeitas, claro a aprovacao parental, dado que também nós teremos que levar com elas.
Post para Mubarak
Em boas maos
Sistema de saúde Americano - ou: le souk.
Fui ao médico no mês passado. Antes de ir, telefonei para os servicos financeiros do consultório e perguntei: quanto vai custar a consulta. Disseram-me vao ser $750 e cobre tudo o que vai ser feito durante a consulta. Cheguei ao consultório e pedem-me $1200. Respondo o quê?? Tinham-me dito $750! Ah ok entao vao ser $850. Dado que sem isso nao conseguia ser atendida, paguei os $850 com a garantia que me mandavam para casa um recibo detalhando tudo o que foi pago. Hmmm. ok. Passaram-se 3 semanas e nicles. Há uns dias chegou finalmente o papel: uma factura de $1900 por pagar. Detalha o custo do que foi feito durante a consulta, comecando pela consulta em si: $550, que nao é nem o valor que me disseram inicialmente, nem o que acabei por pagar. A factura está ali em cima da mesa, nao paga, porque ninguém com quem falo me consegue explicar que merda é esta que se está aqui a passar. E o recibo dos $850 que paguei, nem vê-lo.
Fiz uma data de exames no outro dia. Recebi uma factura do laboratório. Paguei imediatamente. Duas semanas mais tarde recebo outra factura com um montante mais ou menos semelhante ao que tinha pago. Ligo para lá a perguntar mas o que é isto. Respondem-me ah sim, ignore, estou a ver aqui que já pagou tudo.
No outro dia o H foi ao dentista. Ele teve mais sorte. Pagou $350 e recebeu um recibo a confirmar que pagou $820. Perguntou porque é que o valor do recibo nao coincide com o valor que ele pagou. Responderam que foi uma atencaozita feita pelo médico.
É revoltante pensar que há gente aqui endividada até aos olhos por causa de contas de médicos. É que uma factura nao paga sao mais uns pontos negativos no famoso "credit score" que cada um tem (eu nao, e ainda bem) e que determina a solvabilidade e o nível de risco de cada indivíduo, e consequentemente a taxa de juro à qual podem pedir empréstimos. Para pagar as ditas contas. Isto tudo quando os servicos de saúde basicamente nao têm tabela de precos e mandam facturas enganadoras assim a ver se pega. Antes fizessem as contas a giz no balcao de ardósia como as velhas do Café da Maca. Ao menos essas nunca se enganavam.
Fiz uma data de exames no outro dia. Recebi uma factura do laboratório. Paguei imediatamente. Duas semanas mais tarde recebo outra factura com um montante mais ou menos semelhante ao que tinha pago. Ligo para lá a perguntar mas o que é isto. Respondem-me ah sim, ignore, estou a ver aqui que já pagou tudo.
No outro dia o H foi ao dentista. Ele teve mais sorte. Pagou $350 e recebeu um recibo a confirmar que pagou $820. Perguntou porque é que o valor do recibo nao coincide com o valor que ele pagou. Responderam que foi uma atencaozita feita pelo médico.
É revoltante pensar que há gente aqui endividada até aos olhos por causa de contas de médicos. É que uma factura nao paga sao mais uns pontos negativos no famoso "credit score" que cada um tem (eu nao, e ainda bem) e que determina a solvabilidade e o nível de risco de cada indivíduo, e consequentemente a taxa de juro à qual podem pedir empréstimos. Para pagar as ditas contas. Isto tudo quando os servicos de saúde basicamente nao têm tabela de precos e mandam facturas enganadoras assim a ver se pega. Antes fizessem as contas a giz no balcao de ardósia como as velhas do Café da Maca. Ao menos essas nunca se enganavam.
O nascimento de uma Nacao

E nem acredito que nao estou lá para ver.


Galocha
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