A confidencialidade dos assuntos de Estado pode esconder as coisas mais terríveis e dar azo a uma impunidade que merece bem ser desmantelada. Mas é também o que permite diálogo entre inimigos e troca de informação vital. Uma coisa é o jornalista de investigação que vai ao fundo das questões, recolhe informação, confirma informação, analiza informação, protege fontes, e publica dentro dos limites da lei e seguindo o código deontológico da sua profissão. Outra coisa é um website, como a Wikileaks, onde qualquer soldado de 23 anos meio frustrado com a vida pode divulgar documentos secretos (e outros nem sequer secretos) assim sem pensar duas vezes. Ainda por cima documentos que vão da mera cusquice política (quero lá saber que chamem Teflon à Merkel), à repetição daquilo que toda a gente já está farto de saber (a ONU é um viveiro de espiões e os diplomatas Americanos nunca, nunca são flor que se cheire), à questão muito mais grave da divulgação de negociações sobre assuntos sensíveis que só podem acontecer dentro de um clima de confidencialidade (Coreia do Norte). Esta misturada toda mostra uma triste tendência para o escândalo e o sensacionalismo.
Há quem diga que graças à Wikileaks, há agora um verdadeiro escrutínio público da coisa política, um triunfo da Verdade. Discordo. Primeiro, porque a existência do Segredo não equivale a um qualquer reino da Mentira. Forma somente um espaço do não-dito, do não-assumido, que é uma lufada de ar fresco para Governos entricheirados na rigidez de um populismo puramente doméstico (Irão). Segundo, porque a "morte" do segredo de Estado não cria um clima de transparência no mundo. Cria desconfiança e, consequentemente, mais opacidade. A confidencialidade de certas questões de Estado era o que me fazia, muitas vezes, pensar que o mundo não é tão mau como parece. Que há mais para lá do que se lê nos jornais, que há diálogo e cooperação que não assumidos publicamente, mas que existem. Acho que o mundo estaria melhor sem o Wikileaks e com mais jornalismo de qualidade. E fica aqui o meu apoio a este comentário publicado no Público (ignorando, claro está, os comentários do gloriosos leitores).
Direita: direito, reivindicação, nemesis política
Humana: ego, compaixão, imperfeição
O Tuga não é Portugal
Não quero que este blogue se torne num exercício cibernético de e-ela-a-dar-no-ceguinho (o Tuga). Sou Portuguesa, falo a língua de Camões, gosto da Mariza, do Jorge Palma e do António Variações, se um dia comprar casa há-de ser em Lisboa. Mas tenho mesmo de aprender a não ler os comentários dos leitores do Público online. Ou melhor até: deixar de ler o Público online. E deixar de ver telejornais online. É que é Tuginha no seu pior. Cimeira da Nato em Lisboa: só consegui ter descrições detalhadas com mapa e tudo de rotas de comitivas e manifestações e consequentes cortes de trânsito. Ah e do material de segurança que só chegou hoje, dois dias após o fecho da Cimeira. E, claro, de como tudo isto é só uma manigância do Sócrates para distrair o pessoal dos verdadeiros problemas da Nação. E de como o Obama ainda é pior que o Bush e vá de retro a América - Satanás nuclear.
O futuro da Nato é um assunto sério e interessante. Talvez seja ave rara nos meios em que tenho andado, mas não sou alérgica a armas, nem a uniformes, não sou anti-Nato, até acho que deviam ter entrado no Kosovo mais cedo. É importante haver uma coalição de Estados democráticos (a Albânia será talvez uma excepção) com capacidade de intervenção militar. E é fascinante ver como a organização se reinventou no pós-Guerra Fria e o rapprochement com a Rússia, que esta Cimeira bem mostrou.
Percebo que haja quem discorde, mas acho que a questão merece diálogo e não gritaria. Atenção e não autismo. E merece definitivamente bem mais do que uma manifestação de jovens mascarados de palhaços.
Digam a um Afegão numa rua de Cabul ou Mazar-e-Sharif que a Nato se vai retirar amanhã. Ele vai abanar a cabeça e pensar "olha agora seja o que deus quizer" e vai para casa a pensar como é que vai conseguir pedir um visto à embaixada Americana. Digam-me por favor que, para além de manifestações dignas de Carnaval de Torres, houve conferências e mesas redondas onde se discutiu como deve ser o papel da Nato no Afeganistão. Os sucessos do treino do exército Afegão, das patrulhas conjuntas, o sentimento de segurança que a larga maioria da população em todo o Centro e Norte do Afeganistão tem consistentemente declarado nos últimos quatro anos. Mas também as disfunções da cadeia de comando, a responsabilidade por mortes de civis durante bombardeamentos aéreos, a necessidade de analisar como a presença da Nato no Afeganistão cria novas dinâmicas no conflito e de tentar identificar qual é a red line - quando é que ficar faz mais mal que bem. Digam-me que se discutiu a tão famosa cooperação civil-militar e a necessária distinção entre espaço humanitário e espaço militar. Distinção que a Nato teima que teima em não aceitar, no Afeganistão.
E há outra coisa: há uns anos, a visibilidade internacional de Portugal era basicamente do tamanho da base das Lajes, das praias do Algarve e do pernil do Figo/Ronaldo. Ou seja: parque de estacionamento, sol e bola. Nos últimos anos, tivemos um Alto Comissário para os Refugiados, um Presidente da Comissão, um Tratado de Lisboa, uma presidência da UE elogiada por muitos, uma eleição para o Conselho de Segurança da ONU e, embora talvez mais visível daqui do que daí, um enorme activismo em várias questões no seio da ONU (violência sexual em conflitos, países menos desenvolvidos etc.). Portugal é um país pequeno, mas não deixa a cadeira vazia e tem tomates para ir atrás de posições de responsabilidade. E isso devia inspirar-nos. A mim, apesar dos Tugas e dos Ipades deste mundo, inspira-me.
O futuro da Nato é um assunto sério e interessante. Talvez seja ave rara nos meios em que tenho andado, mas não sou alérgica a armas, nem a uniformes, não sou anti-Nato, até acho que deviam ter entrado no Kosovo mais cedo. É importante haver uma coalição de Estados democráticos (a Albânia será talvez uma excepção) com capacidade de intervenção militar. E é fascinante ver como a organização se reinventou no pós-Guerra Fria e o rapprochement com a Rússia, que esta Cimeira bem mostrou.
Percebo que haja quem discorde, mas acho que a questão merece diálogo e não gritaria. Atenção e não autismo. E merece definitivamente bem mais do que uma manifestação de jovens mascarados de palhaços.
Digam a um Afegão numa rua de Cabul ou Mazar-e-Sharif que a Nato se vai retirar amanhã. Ele vai abanar a cabeça e pensar "olha agora seja o que deus quizer" e vai para casa a pensar como é que vai conseguir pedir um visto à embaixada Americana. Digam-me por favor que, para além de manifestações dignas de Carnaval de Torres, houve conferências e mesas redondas onde se discutiu como deve ser o papel da Nato no Afeganistão. Os sucessos do treino do exército Afegão, das patrulhas conjuntas, o sentimento de segurança que a larga maioria da população em todo o Centro e Norte do Afeganistão tem consistentemente declarado nos últimos quatro anos. Mas também as disfunções da cadeia de comando, a responsabilidade por mortes de civis durante bombardeamentos aéreos, a necessidade de analisar como a presença da Nato no Afeganistão cria novas dinâmicas no conflito e de tentar identificar qual é a red line - quando é que ficar faz mais mal que bem. Digam-me que se discutiu a tão famosa cooperação civil-militar e a necessária distinção entre espaço humanitário e espaço militar. Distinção que a Nato teima que teima em não aceitar, no Afeganistão.
E há outra coisa: há uns anos, a visibilidade internacional de Portugal era basicamente do tamanho da base das Lajes, das praias do Algarve e do pernil do Figo/Ronaldo. Ou seja: parque de estacionamento, sol e bola. Nos últimos anos, tivemos um Alto Comissário para os Refugiados, um Presidente da Comissão, um Tratado de Lisboa, uma presidência da UE elogiada por muitos, uma eleição para o Conselho de Segurança da ONU e, embora talvez mais visível daqui do que daí, um enorme activismo em várias questões no seio da ONU (violência sexual em conflitos, países menos desenvolvidos etc.). Portugal é um país pequeno, mas não deixa a cadeira vazia e tem tomates para ir atrás de posições de responsabilidade. E isso devia inspirar-nos. A mim, apesar dos Tugas e dos Ipades deste mundo, inspira-me.
November Delta
No Darfur éramos quatro November Deltas (November para Nyala, Delta para pnuD). Quatro jovens que, com uma mão cheia de advogados e um insubstituível e hilariante antigo juiz, formaram a equipa mais bem rodada da região naqueles gloriosos meses de 2006-2007. Ser November Delta é ter a garra de uma alcateia de lobos à caça em pleno Inverno, é perceber-se depressa o que se está a passar à nossa volta, é aprender com os melhores e combater contra os piores (sejam eles homens armados ou colegas que se tornam num perigo de tão incompetentes que são), é rir-se cinicamente da paz no mundo, mas saber-se ver sucessos nas pequenas coisas que melhoraram a vida deste ou daquele homem, desta ou daquela mulher; é ultrapassar-se períodos difíceis por se saber porquê e para onde se vai.
Três anos depois reunimo-nos (quase) todas em Nova Iorque.
K, seguiu para o Uganda (com que tanto sonhava) e depois para a Costa do Marfim e depois veio para aqui, onde dirige o escritório de uma das maiores ONGs humanitárias. Casou-se há uns meses com um jovem que foi frequente hóspede da casa Delta em Nyala, até ter sido expulso do país por ser tão bom naquilo que fazia. Cada coisa que tenta, K consegue. Está mais calma, mais confiante, mas se o trabalho se acumula ainda se torna num monstro-que-não-há-quem-a-ature de stress. Há coisas que não mudam.
O, foi a única de nós que se atracou ao Sudão com unhas e dentes. Hoje vive em Nairobi e lidera todas as campanhas relativas ao Sudão na mesma ONG da K. Veio cá após uma longa viagem com paragens em Londres, Bruxelas, Paris e Washington, reuniões com vários ministros e inúmeras conferências de imprensa. A O aprendeu finalmente a conduzir e comprou uma casa. Ainda tem o seu palmito de cara meia Inglesa, meia Grega e uma corte de jovens à volta dela. E nunca, nunca, nunca se cala. Até eu a mandar. Há coisas que não mudam.
D, teria vindo até cá não fosse o facto de ter a córnea de um homem morto dentro do olho. O tão esperado transplante aconteceu em Agosto e está a dar-lhe uma visão que antes só conseguia ter com umas lentes que lhe custavam os olhos da cara e que saltavam para fora de 10 em 10 mins. Como naquela noite em que chegámos as duas estafadas à casa Delta, já no limite do recolher obrigatório, esganadas de fome, só para descobrir uma cozinha invadida por gafanhotos. Milhares deles. Procedemos então à batalha do milénio, botifarras contra insectos voadores e pumba pumba pumba a esmagá-los todos. Até que a filha da mãe da lente lhe sai do olho e a D: "PÁÁÁRA, PÁÁÁÁRA QUE A LENTE CAIU, OLHA QUE DOU CABO DE TI SE ME ESMAGAS A LENTE". Mas a lente estava para sempre perdida no campo de batalha e deu, com certeza, uma indigestão a uma das formigas gigantes que nos seguiam tipo máquina de limpeza industrial a devorar os corpos caídos do insectos vencidos. Enfim, não passa de uma história do passado, porque agora a D consegue ver como deve ser. Está a viver em Jerusalém (como tanto queria), onde dirige um programa de assistência jurídica aos seus conterrâneos Palestinienses. Ainda não se amancebou porque ninguém percebe o seu sentido de humor extremamente, excessivamente sarcástico e talvez porque continua a idolatrar o dia de descanso a ver DVDs ou a ler sem falar com absolutamente ninguém. Porque há coisas que não mudam.
E eu, casada que era, casada continuo, mas sem mais por dizer. E ao fim destes dias, dou por mim tristemente inquieta a perguntar-me para onde foi a minha November-Deltez.
Três anos depois reunimo-nos (quase) todas em Nova Iorque.
K, seguiu para o Uganda (com que tanto sonhava) e depois para a Costa do Marfim e depois veio para aqui, onde dirige o escritório de uma das maiores ONGs humanitárias. Casou-se há uns meses com um jovem que foi frequente hóspede da casa Delta em Nyala, até ter sido expulso do país por ser tão bom naquilo que fazia. Cada coisa que tenta, K consegue. Está mais calma, mais confiante, mas se o trabalho se acumula ainda se torna num monstro-que-não-há-quem-a-ature de stress. Há coisas que não mudam.
O, foi a única de nós que se atracou ao Sudão com unhas e dentes. Hoje vive em Nairobi e lidera todas as campanhas relativas ao Sudão na mesma ONG da K. Veio cá após uma longa viagem com paragens em Londres, Bruxelas, Paris e Washington, reuniões com vários ministros e inúmeras conferências de imprensa. A O aprendeu finalmente a conduzir e comprou uma casa. Ainda tem o seu palmito de cara meia Inglesa, meia Grega e uma corte de jovens à volta dela. E nunca, nunca, nunca se cala. Até eu a mandar. Há coisas que não mudam.
D, teria vindo até cá não fosse o facto de ter a córnea de um homem morto dentro do olho. O tão esperado transplante aconteceu em Agosto e está a dar-lhe uma visão que antes só conseguia ter com umas lentes que lhe custavam os olhos da cara e que saltavam para fora de 10 em 10 mins. Como naquela noite em que chegámos as duas estafadas à casa Delta, já no limite do recolher obrigatório, esganadas de fome, só para descobrir uma cozinha invadida por gafanhotos. Milhares deles. Procedemos então à batalha do milénio, botifarras contra insectos voadores e pumba pumba pumba a esmagá-los todos. Até que a filha da mãe da lente lhe sai do olho e a D: "PÁÁÁRA, PÁÁÁÁRA QUE A LENTE CAIU, OLHA QUE DOU CABO DE TI SE ME ESMAGAS A LENTE". Mas a lente estava para sempre perdida no campo de batalha e deu, com certeza, uma indigestão a uma das formigas gigantes que nos seguiam tipo máquina de limpeza industrial a devorar os corpos caídos do insectos vencidos. Enfim, não passa de uma história do passado, porque agora a D consegue ver como deve ser. Está a viver em Jerusalém (como tanto queria), onde dirige um programa de assistência jurídica aos seus conterrâneos Palestinienses. Ainda não se amancebou porque ninguém percebe o seu sentido de humor extremamente, excessivamente sarcástico e talvez porque continua a idolatrar o dia de descanso a ver DVDs ou a ler sem falar com absolutamente ninguém. Porque há coisas que não mudam.
E eu, casada que era, casada continuo, mas sem mais por dizer. E ao fim destes dias, dou por mim tristemente inquieta a perguntar-me para onde foi a minha November-Deltez.
Está quase, está quase
Já se acotovela gente à roda à roda à roda no ringue de patinagem no gelo em frente ao Rockefeller Center
Já chegou o pinheiro gigante, vindo de uma quinta no cú de judas da América
Já o estão a empipalhar com luzes e mais luzinhas, em preparação para a mítica cerimónia do acender da árvore no dia 30.
O Macy's já está engrinaldado e as vitrinas preparam-se para acolher os novos fantoches, retratando cenas da vida natalícia Americana
Perús de tamanho a fazer medo ao meu irmão Rui-quando-tinha-15-anos já dominam a ala da carne
O Starbucks já oferece eggnog-lattes em copos vermelhos e brancos
É (quase) Natal.
Já chegou o pinheiro gigante, vindo de uma quinta no cú de judas da América
Já o estão a empipalhar com luzes e mais luzinhas, em preparação para a mítica cerimónia do acender da árvore no dia 30.
O Macy's já está engrinaldado e as vitrinas preparam-se para acolher os novos fantoches, retratando cenas da vida natalícia Americana
Perús de tamanho a fazer medo ao meu irmão Rui-quando-tinha-15-anos já dominam a ala da carne
O Starbucks já oferece eggnog-lattes em copos vermelhos e brancos
É (quase) Natal.

Eu, o Ipad e o desespero de ser Portuguesa
Trabalhei um ano e meio no Sudão.
Acompanhei, em Cartum, os primeiros passos do governo de união nacional, criado pelo acordo de paz de 2005, que pôs termo a décadas de guerra no Sul do Sudão e que prevê a organização de um referendo sobre a independência do Sul do Sudão em Janeiro de 2011. Vi a dificuldade com que os eleitos Sudistas (não) se integraram na vida política de Cartum. E fi-lo a partir da delegação da Comissão Europeia.
Visitei várias zonas dos estados ditos de "transição", zonas em situação de permanente conflito, onde etnias Sudistas e Nordistas cohabitam tant bien que mal, onde há exploração petrolífera e construção de pipelines por empresas Chinesas e onde a eventual futura fronteira entre Sudão Norte e Sudão Sul irá passar (mais abaixo diz Cartum, mais acima diz Juba).
Mais tarde, cheguei ao Darfur logo após a assinatura de outro histórico "acordo de paz" em 2006, e vi como falhou em dar representatividade política aos Darfuris e como falhou em acabar com os ataques contra certas etnias, fazendo do Darfur um novo Sul do Sudão. Vi também (e quase senti na pele) a extrema tensão entre Cartum e a ONU e as disfunções da presença internacional no Sudão.
Acho que conheço a situação no Sudão. Relativamente bem.
Antes de tudo isto, estudei direitos humanos e democratização num programa financiado e apoiado pela Comissão Europeia, que incluiu uma semana de treino em observação eleitoral.
Não é portanto de espantar que, nos últimos 4 anos, tenha esperado ansiosamente pela oportunidade de participar na missão de observação eleitoral da Comissão Europeia no Sudão. Inscrevi-me na lista de potenciais observadores Portugueses e no mês passado lá veio o tão esperado pedido de candidaturas, dirigido especialmente a quem tivesse experiência de trabalho no Sudão e treino em observação eleitoral. Mal contendo a expectativa, assinalei a minha disponibilidade ao Ipad (entidade que gere as candidaturas Portuguesas) e esperei.
Foi com incredulidade que recebi hoje um email da Comissão a dizer que fui sugerida por Portugal na LISTA DE RESERVA para a missão de observação no Sudão e que lamentam comunicar que não fui seleccionada.
É mais uma das inúmeras situações de bloqueio em me encontrei sempre que tive que passar pelo Ipad. Há dias em que tenho mesmo pena de não ter avançado para a frente com o processo de naturalização em França.
Acompanhei, em Cartum, os primeiros passos do governo de união nacional, criado pelo acordo de paz de 2005, que pôs termo a décadas de guerra no Sul do Sudão e que prevê a organização de um referendo sobre a independência do Sul do Sudão em Janeiro de 2011. Vi a dificuldade com que os eleitos Sudistas (não) se integraram na vida política de Cartum. E fi-lo a partir da delegação da Comissão Europeia.
Visitei várias zonas dos estados ditos de "transição", zonas em situação de permanente conflito, onde etnias Sudistas e Nordistas cohabitam tant bien que mal, onde há exploração petrolífera e construção de pipelines por empresas Chinesas e onde a eventual futura fronteira entre Sudão Norte e Sudão Sul irá passar (mais abaixo diz Cartum, mais acima diz Juba).
Mais tarde, cheguei ao Darfur logo após a assinatura de outro histórico "acordo de paz" em 2006, e vi como falhou em dar representatividade política aos Darfuris e como falhou em acabar com os ataques contra certas etnias, fazendo do Darfur um novo Sul do Sudão. Vi também (e quase senti na pele) a extrema tensão entre Cartum e a ONU e as disfunções da presença internacional no Sudão.
Acho que conheço a situação no Sudão. Relativamente bem.
Antes de tudo isto, estudei direitos humanos e democratização num programa financiado e apoiado pela Comissão Europeia, que incluiu uma semana de treino em observação eleitoral.
Não é portanto de espantar que, nos últimos 4 anos, tenha esperado ansiosamente pela oportunidade de participar na missão de observação eleitoral da Comissão Europeia no Sudão. Inscrevi-me na lista de potenciais observadores Portugueses e no mês passado lá veio o tão esperado pedido de candidaturas, dirigido especialmente a quem tivesse experiência de trabalho no Sudão e treino em observação eleitoral. Mal contendo a expectativa, assinalei a minha disponibilidade ao Ipad (entidade que gere as candidaturas Portuguesas) e esperei.
Foi com incredulidade que recebi hoje um email da Comissão a dizer que fui sugerida por Portugal na LISTA DE RESERVA para a missão de observação no Sudão e que lamentam comunicar que não fui seleccionada.
É mais uma das inúmeras situações de bloqueio em me encontrei sempre que tive que passar pelo Ipad. Há dias em que tenho mesmo pena de não ter avançado para a frente com o processo de naturalização em França.
2 meses n'América

Do Camóne - o serviço ao cliente
A deambulação diária pelas ruas de Nova Iorque a tratar de inúmeras caganitas administrativas continua a provar que o Camóne não é, definitivamente, como nós. Nós sendo eu, a família SG, os Portugueses , os Alemães, os Europeus em geral, gente normal, cães e piriquitos.
Já me habituei a ter que dar o meu primeiro nome a qualquer balcão pindérico de apoio ao cliente e ter de falar com Aleysha's e Dolores's e Johnny's à cerca das minhas "necessidades" (o termo é deles) no que diz respeito à telefonia móvel, à televisão por cabo, ao selo postal etc. Estas conversas acabam invariavelmente em discussão de meia-noite quando chega a altura de pagar o meu produto e eu decido que afinal não quero o produto porque a conta de repente ficou 45% mais cara. É por mais que eu pergunte, a Aleysha, a Dolores e o Johnny desembalam os discurso todo que lhes tatuaram - na língua, não no cérebro - durante os dias de orientação, discretamente e invariavelmente omitindo o facto dos preços estarem todos indicados sem IVA e outras misteriosas taxas, à espera que eu assine sem olhar para o preço, ladrões do catano.
Quando o contacto é por telefone, já me habituei a deixá-los acabar a logorreia de apresentação e agradecerem-me por cada palavra que eu, omnipotente cliente, digo.
Obrigada por ligar para o serviço de apoio ao cliente da T-Mobile, contamos com mais de 5 milhões de clientes satisfeitos nos Estados Unidos e agradecemos desde já a confiança que depositou em nós, o meu nome é Aleysha, em que posso ajudá-la hoje? Não ontem, claro. Hoje.
Eu explico que ontem estava a tentar transferir o meu número de telefone antigo para o novo telemóvel, mas que a chamada caiu e que não tenho a certeza do processo ter sido finalizado. Ela pede-me o número do dito telefone. Eu digo-lhe o número. E ela agradece-me por essa informação. Depois pede-me a data de nascimento. Eu digo a data de nascimento. E ela agradece-me por essa informação. Depois pede-me o meu nome. Eu digo-lhe o meu nome. Ela não percebe, pede-me para soletrar. Eu soletro. E ela agradece-me por essa informação. E diz-me: então Falipi, queres transferir o teu número antigo, certo? Sim. Para te ajudar nesse processo, vou transferir-te ao nosso serviço de transferências de números. Mais uma vez, obrigada por teres ligado, por favor não desligues.
Obrigada por ligar para o serviço de apoio ao cliente da T-Mobile, contamos com mais de 5 milhões de clientes satisfeitos nos Estados Unidos e agradecemos desde já a confiança que depositou em nós, o meu nome é Johnny, em que posso ajudá-la hoje? Mais uma vez, explico que ontem estava a tentar transferir o meu número de telefone antigo para o novo telemóvel, mas que a chamada caiu e que não tenho a certeza do processo ter sido finalizado. Ele pede-me o número do dito telefone. Eu digo-lhe o número. E ele agradece-me por essa informação. Depois pede-me a data de nascimento. Eu digo a data de nascimento. E ele agradece-me por essa informação. Depois pede-me o meu nome. Eu digo-lhe o meu nome. Ele não percebe, pede-me para soletrar. Eu soletro. E ela agradece-me por essa informação.
Ok Salipa, primeiro tenho que abrir uma ficha e inserir os teus dados. Tchac, tchac, tchac, tchac no teclado. Ok, feito. E agora qual é o teu número antigo? Tchac, tchac, tchac, tchac. E o número da tua conta? Tchac, tchac, tchac, tchac., tchac, tchac. Hmmmm... Tchac. Tchac. Clic. Clic. Clic clic, clic clic. Hmmmm... Podes repetir o número de telefone? Eu repito. Ele agradece-me pela informação. Tchac, tchac, tchac. Hmmm.... Diz aqui que já está um pedido de transferência em curso para esse número. Tens a certeza que este é o teu número? Nisto já passaram uns bons 30 mins e eu, cliente omnipotente, enervo-me qual Camerouniana em tensão pré-menstrual e disparo está a gozar comigo? Claro que está um pedido em curso, já lhe disse que eu fiz esse pedido ontem, só quero saber se está confirmado. Ah... vai ter que confirmar com o meu colega, não desligue.
Oiço o inconfundível Love me Tender, na versão de gaitas Peruanas.
Estou, sim? Obrigada por ligar para o serviço de apoio ao cliente da T-Mobile, contamos com mais de 5 milhões de clientes satisfeitos nos Estados Unidos e agradecemos desde já a confiança que depositou em nós, o meu nome é Dolores, em que posso ajudá-la hoje?
Irra!
Já me habituei a ter que dar o meu primeiro nome a qualquer balcão pindérico de apoio ao cliente e ter de falar com Aleysha's e Dolores's e Johnny's à cerca das minhas "necessidades" (o termo é deles) no que diz respeito à telefonia móvel, à televisão por cabo, ao selo postal etc. Estas conversas acabam invariavelmente em discussão de meia-noite quando chega a altura de pagar o meu produto e eu decido que afinal não quero o produto porque a conta de repente ficou 45% mais cara. É por mais que eu pergunte, a Aleysha, a Dolores e o Johnny desembalam os discurso todo que lhes tatuaram - na língua, não no cérebro - durante os dias de orientação, discretamente e invariavelmente omitindo o facto dos preços estarem todos indicados sem IVA e outras misteriosas taxas, à espera que eu assine sem olhar para o preço, ladrões do catano.
Quando o contacto é por telefone, já me habituei a deixá-los acabar a logorreia de apresentação e agradecerem-me por cada palavra que eu, omnipotente cliente, digo.
Obrigada por ligar para o serviço de apoio ao cliente da T-Mobile, contamos com mais de 5 milhões de clientes satisfeitos nos Estados Unidos e agradecemos desde já a confiança que depositou em nós, o meu nome é Aleysha, em que posso ajudá-la hoje? Não ontem, claro. Hoje.
Eu explico que ontem estava a tentar transferir o meu número de telefone antigo para o novo telemóvel, mas que a chamada caiu e que não tenho a certeza do processo ter sido finalizado. Ela pede-me o número do dito telefone. Eu digo-lhe o número. E ela agradece-me por essa informação. Depois pede-me a data de nascimento. Eu digo a data de nascimento. E ela agradece-me por essa informação. Depois pede-me o meu nome. Eu digo-lhe o meu nome. Ela não percebe, pede-me para soletrar. Eu soletro. E ela agradece-me por essa informação. E diz-me: então Falipi, queres transferir o teu número antigo, certo? Sim. Para te ajudar nesse processo, vou transferir-te ao nosso serviço de transferências de números. Mais uma vez, obrigada por teres ligado, por favor não desligues.
Obrigada por ligar para o serviço de apoio ao cliente da T-Mobile, contamos com mais de 5 milhões de clientes satisfeitos nos Estados Unidos e agradecemos desde já a confiança que depositou em nós, o meu nome é Johnny, em que posso ajudá-la hoje? Mais uma vez, explico que ontem estava a tentar transferir o meu número de telefone antigo para o novo telemóvel, mas que a chamada caiu e que não tenho a certeza do processo ter sido finalizado. Ele pede-me o número do dito telefone. Eu digo-lhe o número. E ele agradece-me por essa informação. Depois pede-me a data de nascimento. Eu digo a data de nascimento. E ele agradece-me por essa informação. Depois pede-me o meu nome. Eu digo-lhe o meu nome. Ele não percebe, pede-me para soletrar. Eu soletro. E ela agradece-me por essa informação.
Ok Salipa, primeiro tenho que abrir uma ficha e inserir os teus dados. Tchac, tchac, tchac, tchac no teclado. Ok, feito. E agora qual é o teu número antigo? Tchac, tchac, tchac, tchac. E o número da tua conta? Tchac, tchac, tchac, tchac., tchac, tchac. Hmmmm... Tchac. Tchac. Clic. Clic. Clic clic, clic clic. Hmmmm... Podes repetir o número de telefone? Eu repito. Ele agradece-me pela informação. Tchac, tchac, tchac. Hmmm.... Diz aqui que já está um pedido de transferência em curso para esse número. Tens a certeza que este é o teu número? Nisto já passaram uns bons 30 mins e eu, cliente omnipotente, enervo-me qual Camerouniana em tensão pré-menstrual e disparo está a gozar comigo? Claro que está um pedido em curso, já lhe disse que eu fiz esse pedido ontem, só quero saber se está confirmado. Ah... vai ter que confirmar com o meu colega, não desligue.
Oiço o inconfundível Love me Tender, na versão de gaitas Peruanas.
Estou, sim? Obrigada por ligar para o serviço de apoio ao cliente da T-Mobile, contamos com mais de 5 milhões de clientes satisfeitos nos Estados Unidos e agradecemos desde já a confiança que depositou em nós, o meu nome é Dolores, em que posso ajudá-la hoje?
Irra!
Earl
Qual Portugal com os seus fogos de Verão, os Estados-Unidos sofrem com a "hurricane season". A meteorologia coloniza as notícias e as discussões entre Palestinianos e Israelitas em Washington e o plano de construção da mesquita ao lado do Ground Zero passam a nota de roda-pé.
Lá para Sul estão tábuas pregadas a janelas, auto-estradas a sentido único (para fora, para longe) com filas intermináveis de carros carregados de tralha, crianças e velhos, locutores da CNN ensopadinhos, agasalhados e encapuçados que nem pescadores de bacalhau na Noruega, berram agarrados com unhas e dentes a postes "como vêem os ventos já arrancaram aquela árvore ali e as casas ao longo daquele pontão já não têm telhado", e a sacana da espiral de água a rodar cada vez mais perto da costa. Vem aí o Earl. E nós num 15º andar cheio de vidros...
Lá para Sul estão tábuas pregadas a janelas, auto-estradas a sentido único (para fora, para longe) com filas intermináveis de carros carregados de tralha, crianças e velhos, locutores da CNN ensopadinhos, agasalhados e encapuçados que nem pescadores de bacalhau na Noruega, berram agarrados com unhas e dentes a postes "como vêem os ventos já arrancaram aquela árvore ali e as casas ao longo daquele pontão já não têm telhado", e a sacana da espiral de água a rodar cada vez mais perto da costa. Vem aí o Earl. E nós num 15º andar cheio de vidros...

Adaptation
Para além das temperaturas infernais de Nova Iorque em Agosto, do litro de leite a $2, dos litros que são "ounces", dos metros que são "feet", dos kilos que são "pounds", da matemática da duplicação do IVA, do mês antes do dia, e do dia do trabalhor celebrado a 6 de Setembro, há as 6h de diferencia horária a que precisamos de nos adaptar. Hoje às 4h30 da manhã estive a um nico de ir lá abaixo ao ginásio correr um bocado no threadmill.
O adeus dele
Empacotaram-nos a vida em 4h e coube tudo em meio contentor que está agora, fechado e selado, a caminho do Atlantico.
A casa faz eco e parece maior.
Os padeiros Rockeiros lá de baixo estao cheios de pena de nos saber indo-nos. O H exibe sinais claros de nó na garganta. Esta tarde deixei-o a deambular pela rua sem mim porque, embora vá ter infinitas saudades do avant-gardismo completamente decadente e despretencioso de Berlim, o adeus é dele só. Esta cidade nunca foi realmente minha. Talvez nenhuma cidade o seja, mas nao faz mal - ele é.
E estaremos bem em Nova Iorque.
A casa faz eco e parece maior.
Os padeiros Rockeiros lá de baixo estao cheios de pena de nos saber indo-nos. O H exibe sinais claros de nó na garganta. Esta tarde deixei-o a deambular pela rua sem mim porque, embora vá ter infinitas saudades do avant-gardismo completamente decadente e despretencioso de Berlim, o adeus é dele só. Esta cidade nunca foi realmente minha. Talvez nenhuma cidade o seja, mas nao faz mal - ele é.
E estaremos bem em Nova Iorque.
Estou além
Há dias como hoje em que poderia pegar na trouxa e ir para Kurmuk, para Kisangani, para Kitgum. E ao fim de um ano ou dois lá, sei que me quereria mudar para Londres. E ao fim de um ano ou dois lá sei que pensaria em ir para Jacmel, ou Baucau, ou Freetown. E ao fim de um ano ou dois... Até os cinco anos que passei em Paris foram marcados por constantes mudanças de apartamento.
A perspectiva de 4 anos em Nova Iorque mantém-me acordada à noite e só não me aperta a garganta porque o H vive pelas palavras de Goethe: weil ich niemals dich anhielt, halt ich dich fest (porque não te prendo, tenho-te bem agarrada) e tem cá uma paciência...
Já dizia o António Variações:
A perspectiva de 4 anos em Nova Iorque mantém-me acordada à noite e só não me aperta a garganta porque o H vive pelas palavras de Goethe: weil ich niemals dich anhielt, halt ich dich fest (porque não te prendo, tenho-te bem agarrada) e tem cá uma paciência...
Já dizia o António Variações:
Roma: gostámos muito
Roma
Body combat
Bolas, fiz disto esta manhã e agora estou que nem me consigo mexer. Tudo me dói! Quero a minha mãezinha! Cá para mim, body combat é para se entender assim quase literalmente: combater contra o corpo. Apre!
Cá se vai andando com a cabeça entre as orelhas
Entre frustrantes idas a médicos, discussões vigorosas com seguros de saúde, hesitações de nível psiquiátrico sobre planos de poupança reforma, preparações frenéticas de passaporte diplomático, treinos hipnotizantes para o concurso da Comissão Europeia e bombardeamento incessante de CVs para todo o lado, a vida não vai mal por Berlim. Descobri o universo ao qual pertenço: os cafés que oferecem acesso à internet de graça. Somos dezenas de pessoas a beber os nossos café lattes lentamente (muito lentamente), à frente dos nossos computadores. Aquele ali com mega headphones nas orelhas faz composições de música, aquela lá ao fundo é designer de roupa.
Esta aqui blogueia e dá os parabéns ao seu irmão querido, no último dos 30!
Esta aqui blogueia e dá os parabéns ao seu irmão querido, no último dos 30!

Hamburguêsa
Fomos a Hamburgo este fim de semana. Sempre que penso "Hamburgo" penso "Sande", penso "faz atenção Kevin", "permisso de séjour", penso também "blusinha" e não camisa, "duas ou trê vezes", "hoje à pipis". E penso "cervejinha", "cafézinho", "tacinha", "bolinho". E o que é lindo é que in loco, houve-se mesmo isto tudo. No restaurante onde comi um bitoque com ovo a cavalo, acompanhado de batata frita (singular) e um arrozinho, pedi a conta assim: "se faz favor era a conta". E o empregado até respondeu: "é para pagar hoje? então é a conta". A sério, foi mesmo.
O vergonha Afegã
Hamid Karzai diz que houve fraude nas eleições presidenciais de Setembro passado e que... (sentem-se que esta é forte) a fraude veio da comunidade internacional e não dos Afegãos.
A sociedade Afegã tem muitos códigos de tal maneira retorcidos que roçam o irracional. O rei desses códigos, na minha opinião, é o da (não) vergonha: um Afegão não pode sentir vergonha em público. Isso equivale a perder a honra. Por mim tudo bem, acho o princípio bom. Desde que o resultado seja que não façam nada que os envergonhe. Mas não. Fazem. Só que depois nem assumem, nem os outros apontam o dedo.
Por exemplo, na ONG onde trabalhei, havia às vezes situações Kafkianas por causa desta brincadeira. O Director cometia um erro, toda a gente via o erro, mas ninguém falava no erro porque senão o Director sentiria vergonha, de maneira que o erro nunca era corrigido. Eficiente.
Mesma coisa quando os Talibãs foram corridos em 2001. Quando o novo governo emergiu, o mesmo Hamid Karzai veio dizer que os Talibãs não foram um fenómeno Afegão. Não. Os Talibãs foram um fenómeno Paquistanês e Saudita que tomou o Afeganistão por assalto. Quem eram aquelas milícias que patrulhavam as ruas à cata de barbas demasiado curtas e de mulheres de sapatos que faziam barulho no chão? Quem eram os hooligans que passavam as sextas à tarde no estádio de Cabul para assistir ao apedrejamento de mulheres alegadamente adúlteras?
E a história continua. Na primeira volta houve fraude de todos os lados e foi tão mal feita que até dói: boletins de voto pre-preenchidos, putos de 12 anos com cartões de eleitor, chefes de comunidade pagos para unirem as suas comunidades sob um determinado candidatos... E Hamid Karzai continua presidente porque o outro candidato se retirou dado o caos total daquela ridícula segunda volta. Mas sim, a culpa da fraude foi da comunidade internacional.
O H. diz que o código da (não) vergonha é a única maneira dos Afegãos se entenderem, de não haver guerra civil permanente. Percebo a ideia, mas para mim esse código é uma doença de cariz psiquiátrico que os une, sim, mas na mediocridade e não no progresso.
A sociedade Afegã tem muitos códigos de tal maneira retorcidos que roçam o irracional. O rei desses códigos, na minha opinião, é o da (não) vergonha: um Afegão não pode sentir vergonha em público. Isso equivale a perder a honra. Por mim tudo bem, acho o princípio bom. Desde que o resultado seja que não façam nada que os envergonhe. Mas não. Fazem. Só que depois nem assumem, nem os outros apontam o dedo.
Por exemplo, na ONG onde trabalhei, havia às vezes situações Kafkianas por causa desta brincadeira. O Director cometia um erro, toda a gente via o erro, mas ninguém falava no erro porque senão o Director sentiria vergonha, de maneira que o erro nunca era corrigido. Eficiente.
Mesma coisa quando os Talibãs foram corridos em 2001. Quando o novo governo emergiu, o mesmo Hamid Karzai veio dizer que os Talibãs não foram um fenómeno Afegão. Não. Os Talibãs foram um fenómeno Paquistanês e Saudita que tomou o Afeganistão por assalto. Quem eram aquelas milícias que patrulhavam as ruas à cata de barbas demasiado curtas e de mulheres de sapatos que faziam barulho no chão? Quem eram os hooligans que passavam as sextas à tarde no estádio de Cabul para assistir ao apedrejamento de mulheres alegadamente adúlteras?
E a história continua. Na primeira volta houve fraude de todos os lados e foi tão mal feita que até dói: boletins de voto pre-preenchidos, putos de 12 anos com cartões de eleitor, chefes de comunidade pagos para unirem as suas comunidades sob um determinado candidatos... E Hamid Karzai continua presidente porque o outro candidato se retirou dado o caos total daquela ridícula segunda volta. Mas sim, a culpa da fraude foi da comunidade internacional.
O H. diz que o código da (não) vergonha é a única maneira dos Afegãos se entenderem, de não haver guerra civil permanente. Percebo a ideia, mas para mim esse código é uma doença de cariz psiquiátrico que os une, sim, mas na mediocridade e não no progresso.
Eh pá há que assumir:
Há vantagens em não se ter filhos: dormir até às tantas; ir skiar; não correr o risco de inundar este blog em bolseios, diarreias e arrotos, saborear com o H um copo de vinho às 7h da noite no bar da esquina e decidir então se se fica, se se vai para casa ou se se dá um salto até ao cinema; candidatar-se para postos no Haiti e em Timor; fazer planos mais concretos para aquela viagem Uganda-Ruanda-Tanzânia-Moçambique e poder ir, sem pensar duas vezes, às gloriosas festas Tour de France no Roter Salon para relembrar, saltando que nem uma maluca no dance floor, as manifs de 1999-2000 contra o Claude Allegre em Paris, ao som dos geniais Louise Attaque:
Trambolhos em Chamonix, Edição 2010
Skiamos que nem uns atuns, e não temos estilo nenhum. Mas Chamonix foi de morrer a rir.
O belo do capacete de aluguer e os óculos mega size:

Como se não fosse o acima referido suficiente, adicionei mais um par, para um look Caixa de Óculos do ano:
E a cereja em cima do bolo foram os tralhos e os risos com os tralhos:
O belo do capacete de aluguer e os óculos mega size:
Como se não fosse o acima referido suficiente, adicionei mais um par, para um look Caixa de Óculos do ano:
E a cereja em cima do bolo foram os tralhos e os risos com os tralhos:
Invictus!
Ontem à tarde a temperatura chegou aos 3 graus centígrados.
Os Berlinenses arrastaram as suas cadeirinhas para a frente dos cafés, equilibraram-nas bem equilibradinhas no meio metro de neve e gelo que lentamente derrete passeio fora deixando um rio de água - qual sangue de batalha - e, exaustos mas invictos, levantaram os seus enormes Milchkaffees para brindar ao Sol que não viam desde Setembro e juntos gritaram victoriosos: o Inverno está a acabar.
Esta gente tem cá uma panca.
Os Berlinenses arrastaram as suas cadeirinhas para a frente dos cafés, equilibraram-nas bem equilibradinhas no meio metro de neve e gelo que lentamente derrete passeio fora deixando um rio de água - qual sangue de batalha - e, exaustos mas invictos, levantaram os seus enormes Milchkaffees para brindar ao Sol que não viam desde Setembro e juntos gritaram victoriosos: o Inverno está a acabar.
Esta gente tem cá uma panca.
Dançar
Cada um tem a sua panca cultural. Há quem seja mais música, há quem seja mais pintura, fotografia, escultura, teatro. Eu é dança. Não é que não goste do resto, mas dança arrepia-me. Há vezes em que me proporciona um tal tsunami estético que sai a lágrima. Na semana passada fomos ver Shut up and Dance Reloaded ao Staatsballet. Teve partes boas, mas entre sons demasiados angustiantes até para dança moderna e uma coreografia final com um triangulo em movimento que pôs a audiência toda a sair do teatro aos tropeções de tanta tontura (a sério!)... Hmmm não sei...
Prefiro isto. Isto é (e foi, quando vi em Londres o ano passado) material de tsunami estético (a ver até ao fim):
Por isso fico à espera que a Sylvie Guillem se mexa de Londres. Talvez quando o Inverno passar.
Prefiro isto. Isto é (e foi, quando vi em Londres o ano passado) material de tsunami estético (a ver até ao fim):
Por isso fico à espera que a Sylvie Guillem se mexa de Londres. Talvez quando o Inverno passar.
Desterrada da vida
Já sei que territorialmente sou desterrada. Eh pá e até gosto - não pertencer a lugar algum sabe bem. Vou para ali, estou bem, e ao fim de algum tempo se me fartar... mudo-me. Sempre compensei a esquizofrenia espacial com a certeza de que estava "in tune" com o mundo em geral - as pessoas, a actualidade, a história etc...
Mas recentemente tenho-me visto desfazada, desactualizada, a apanhar do ar, ao papel, à nora. Percebo o conceito do Facebook (e até lá tenho 190 e tal amigos), mas já o Twitter passa-me ao lado. E no outro dia olhei, como perfeito boi para cavalo, para a excitação de umas adolescentes perante o jogo de video de uma tal de Hannah Montana. E no outro dia fui toda contente a uma aula de dança e não é que acabei por treinar - qual elefante com tutu - os passos da coreografia da dita Montana! Resignada, lá saltitei e ao chegar a casa fui ver à Wikipédia quem é o raio da miúda. Isto é agora que ainda estou nos 20. Para o ano já não vou nisto e resigno-me de vez.
Mas recentemente tenho-me visto desfazada, desactualizada, a apanhar do ar, ao papel, à nora. Percebo o conceito do Facebook (e até lá tenho 190 e tal amigos), mas já o Twitter passa-me ao lado. E no outro dia olhei, como perfeito boi para cavalo, para a excitação de umas adolescentes perante o jogo de video de uma tal de Hannah Montana. E no outro dia fui toda contente a uma aula de dança e não é que acabei por treinar - qual elefante com tutu - os passos da coreografia da dita Montana! Resignada, lá saltitei e ao chegar a casa fui ver à Wikipédia quem é o raio da miúda. Isto é agora que ainda estou nos 20. Para o ano já não vou nisto e resigno-me de vez.
Hannah Montana Does the Hoedown Throwdown - kewego
http://tr.im/g5kv The new music video for Hoedown Throwdown from Hannah Montana the movie
http://tr.im/g5kv The new music video for Hoedown Throwdown from Hannah Montana the movie
Assim dá gosto ser Portuguesa - hats off à AR!
Artigo 5.º
Disposição final
Todas as disposições legais relativas ao casamento e seus efeitos devem ser interpretadas à luz da presente lei, independentemente do género dos cônjuges, sem prejuízo do disposto no artigo 3.º.
Daqui a uns anos, tem é que cair a última parte desta frase.
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