Nas últimas semanas, três acontecimentos perturbaram-me:
1) Uma Barbie Burqa foi leiloada na Sotheby's em nome da diversidade. Esta notícia, li-a num post de um blog que, de vez em quando, leio.
2) Uma advogada Espanhola de origem Marroquina foi expulsa de uma sala de tribunal por usar um véu (um véu simples). Esta notícia, li-a no mesmo blog.
3) Os Suíços referendaram que não se deviam construir mais minaretes na Suíça. Não houve nenhuma vaga de construções de minaretes na Suíça, houve um pedido numa comunidade para a construção de um minarete de 3m de altura (gigante, portanto) num hangar desafectado que é o único sítio onde a dita comunidade se pode reunir para rezar. Mas os Suíços, precavidos que são, acharam por bem pôr já um ponto final na questão, que isto aqui não é Arábia Saudita e vai lá mas é cantar allah-u-akbar prá tua terra. Uma expressão perfeita do mentecapto-provincianismo em que caímos desde 11/09/2001.
O que me perturba nestas três histórias é a confusão que sinto quando me tento posicionar sobre estas questões. Normalmente, uma pessoa posiciona-se, olha à volta, e consegue identificar-se com um grupo de pessoas que têm a mesma opinião sobre o assunto em geral. Dentro desse grupo, as pessoas tendem a seguir uma linha de raciocínio idêntica que culmina em opiniões mais ou menos idênticas. Mas qualquer questão Islão vs. Ocidente baralha tudo. Não é que eu queira encontrar Marias que vão comigo, mas sinto-me um bocado perdida.
Quando li o post sobre a Barbie de burqa, concordei totalmente com a opinião da autora: Diversidade? E que tal leiloar Barbies escravas sexuais? Ou Barbies espancadas pelos maridos? E violadas? (e mais um remate final cujo estilo tem piada, mas é mais da autora que meu, que a minha família lê o meu blog e eu ainda não assumi que digo palavrões).
Mas quando li o post sobre a advogada, pensei nunca mais voltar àquele blog, de tal maneira a opinião da autora me enojou: e sa advogada se sente discriminada, olha, paciência, lamento imenso, mas deste lado do mundo em que vivo as coisas não funcionam assim. De repente, multiculturalismo tornou-se um defeito. E eu que vivo no Afeganistão há mais de um ano e não me importo nada de usar um véu a tapar o cabelo, embora tal tradição não me diga patavina, penso: será que estou a ser cúmplice da opressão das mulheres? Será que devia andar por Mazar de cabelo à solta e manga curta como que para dizer estou aqui, sim, mas lamento imenso, neste meu mundo em que vivo as coisas não funcionam assim...? Acho que não. Não por estar no Afeganistão, mas por achar que um véu simboliza aquilo que o deixarmos simbolizar. Um véu a tapar o cabelo de uma cidadã Espanhola de origem Marroquina num tribunal não me mete medo nem me afronta. Penso, antes: cosmopolita! Isto em Alguidares-de-baixo não se via! Sinto o mesmo por véus que por crucifixos ao peito, Hari Krishnas todos cor-de-laranja a cantarolar, cabeças carecas de Budistas, kippas, minaretes e os inenarráveis sapatos verde alface que a minha irmã mais nova usava tão orgulhosamente. O problema é que véus a tapar o cabelo tudo bem, mas burqas já me fazem confusão. E não há hipótese de olhar à volta e tentar agarrar referências ou perceber porquê. Porque vivemos numa era onde se leiloam bonecas de burqa mas se banem minaretes, onde se critica quem elogia burqas, mas se concorda com quem manda um simples véu sala de audiência fora.
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