Eid mubarak

Voltei a Mazar há uma semana. Tentei passar o máximo tempo possível de Setembro fora do Afeganistao para escapar ao Ramadao. E o terceiro Ramadao que vivo e é sempre uma experiencia dificil. Restaurantes e lojas fechados e ninguém com mais de 12 anos come nem bebe do nascer ao por do sol, com a ocasional e temporária excepcao de viajantes, doentes, mulheres menstruadas (dado que, claro, estao impuras) e a total excepcao de infiéis - como eu. O problema é que, na práctica, ninguém come nem bebe à frente dos outros e eu, mexilhao que sou, ou me escondo debaixo da mesa com uma garrafa de água ou lixo-me. Portanto fugi daqui porque já sei o que a casa gasta.

Voltei mesmo no fim do Ramadao para o Eid. Há dois Eids no Islao: Eid-el-Fitr, que marca o fim do Ramadao, e Eid-el-Adha que marca uma história comum às tres religioes monoteístas: o quase sacrifício de Isaaq (ou Ishmael) por Abraao (ou Ibrahim). O Eid-el-Fitr sao tres dias em que se festeja com família e amigos, veste-se roupa nova e come-se comidas especiais. E um pouco como o Natal para nós.

A realidade, no entanto é um pouco diferente. Basicamente o Eid é uma maratona de visitas, nozes e chá. Batemos à porta do amigo ou familiar, dizemos Eid Mubarak, entramos, somos rapidamente encaminhados para a sala de convidados que existe em toda casa Afega, sentamo-nos à frente de uma exposicao de bolos, rebucados, nozes variadas, servem-nos chá e bebemos e comemos durante 10-15 minutos. Depois levantamo-nos dizemos obrigada, adeus e vamos embora. O estranho é que, para além do olá e adeus, ninguém diz nada. Nao se conversa. Nao se ve sequer o resto da casa e dos residentes da casa.

Fiz isto seis vezes na Sexta-feira passada. Ao fim do dia a minha colega pergunta-me se também temos esta tradicao de visitar pessoas numa ocasiao especial, no meu país. Eu disse que nao, e é verdade que nao. E ao dize-lo pensei, bolas, até parece que somos mesmo individualistas na Europa. Mas pera aí, alto lá e pára o baile... Nao temos maratonas de visitas, mas há mais conversa e diálogo numa noite de Natal em Portugal do que em tres dias de Eid aqui.

E a diferenca entre quantidade e qualidade.

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