Pronk, ganda bronk

Por causa do que escreveu aqui à cerca das desfeitas do exército Sudanês face aos rebeldes no Darfur, Jan Pronk, representante do Kofi Annan no Sudão, tem 72h para sair do país.

Mas convenhamos, era uma questão de tempo. Tirando o posto de chefe das forças da ONU no Rwanda em Abril de 1994, o posto de representante da ONU no Sudão em 2006 é provavelmente uma dos mais difíceis de aguentar.

O cargo foi criado no contexto do acordo de paz Norte-Sul de 2005 e da criação de um governo transitório de União Nacional, após 20 e tal anos de guerra civil. Enquanto a paz se faz a Sul, o Este desasossega-se e o Oeste rompe em guerra (Darfur), não por pretensões independentistas como o Sul, mas por um semelhante sentimento de marginalização e um desejo de representação a nível do governo central. Com um país deste tamanho, que de federalista tem só o nome, instabilidades regionais são ao mesmo tempo uma consequencia e um teste para o acordo de paz Norte-Sul. Daí o escrutínio diligente de Pronk a questões que se situam tecnicamente - e apenas tecnicamente - fora do seu mandato. Daí a bronk.

E este acontecimento é realmente revelador dos limites do Governo de União Nacional Norte-Sul:
O teste não está a correr bem, dado que Pronk foi declarado persona non grata em nome do Governo pelo Presidente, ignorando totalmente a posição do Vice-Presidente Salva Kiir (sucessor do histórico John Garang, falecido - diz que acidentalmente mas ó ó mon oeil - em Agosto do ano passado), que chegou ao absurdo de denunciar a decisão que saíu do seu próprio escritório. Em troca de paz e de uma eventual futura ceceção ao longo de uma linha de fronteira ainda por definir que passa por reservas de petróleo das quais o Norte não tem intenção nenhuma de abdicar, os representantes do Sul-Sudão acomodaram-se em Khartoum numa estado de letargia à espera que o tempo até 2011 passe depressa. Por este autêntica deserção, o Sul é agora cúmplice do anti-ONUismo da clique do Presidente e, caso a expulsão de Pronk cause a suspensão do mandato da UNMIS, acabou de perder a instituição que lhes garantia apoio político e material necessário para reconstruir o Sul.

Em segundo lugar, a expulsão de Pronk traz obviamente mais más notícias para o Darfur:
Após meses e meses de alarido e de grito ao genocídio pelos Americanos, que só contribuiu para antagonizar ainda mais as relações entre Khartoum e a comunidade internacional, a ONU tinha finalmente conseguido obter um compromisso, segundo o qual seriam enviados para o Darfur não os tão contestados capacetes azuis do famoso Capítulo VII da Carta das Nações Unidas, mas sim os menos conhecidos observadores militares do quase incógnito mas não menos interessante Capítulo VIII da Carta das Nações Unidas. Isto num contexto em que a missão de paz da União Africana tinha acabado de ser prolongada (Outubro 2006) e recebido várias promessas de apoio financeiro por parte, entre outros, de vários Estados Arabes. Foi um passo para a frente. E esta expulsão deu dois passos para trás. O apoio financeiro do países Arabes não chegou, os combates governo-rebeldes e rebeldes-rebeldes recomeçaram, acompanhados pelas habituais deslocações de população en masse, a ONU perdeu o seu representante no país e Khartoum recusa que um novo representante seja nomeado enquanto o novo Secretário Geral da ONU não tomar posse. O que acontecerá em Janeiro, altura em que o mandato da União Africana terá acabado de expirar.

E um cálculo quase matemático do governo de Khartoum para conservar a faca e o queijo na mão em relação ao Darfur.

1 comentário:

Lemon Curd disse...

Filipinha!
Obrigada por este relato tão explicadinho!
É câ gente ouve faler destas coisas +/- e não percebe nada.
Obrgada

BEIJINHOS
Joana