Imagino a mensagem dos servicos de seguranca, instruindo a todos que limitem as deslocacoes na cidade durante o dia de sexta-feira, dado que se esperam manifestacoes depois das rezas do meio-dia. Imagino os meus colegas e amigos a pensarem "oh outra vez, que chatice, sempre que o idiota do padre resolve queimar mais um corao é a mesma coisa". Hà os que decidem ficar por casa (apesar de tudo, sexta-feira é dia de descanso no Afeganistao), outros vao para o escritorio cedinho cedinho para adiantar trabalho, armados de tupperwares com almoco jà preparado, dado que vao ter de ficar là o dia todo por causa das restricoes de movimento.
Imagino o sms dos servicos de seguranca, apos as rezas do meio-dia, anunciando que os manifestantes se estao a dirigir para o escritorio da ONU e que hà elementos violentos no grupo, e dando a instrucao a todos que nao se desloquem para a area e que mais noticias virao.
Imagino de repente a chuva de sms "tiros em frente ao escritorio da ONU", "manifestantes dentro do escritorio da ONU - baixas possiveis" e a declaracao "Mazar white city" -ninguém poe o nariz na rua, staff de seguranca lanca apelos a todos para confirmar onde cada um està.
Imagino o trafego ininterrompido de mensagens via VHS.
Imagino a luz vermelha de todos os walkie-talkies a piscar e a rede de emergencia a transmitir o que se passa a todo o momento à volta de quem accionou o botao vermelho - provavelmente um dos que resolveu ir para o escritorio.
Imagino as vozes desesperadas transmitidas pela rede de emergencia.
Imagino a impotencia e incredulidade de quem està a ouvir.
Nao quero imaginar o que é espreitar là fora e ver os corpos mortos dos guardas Nepaleses da entrada e um grupo de pessoas furiosas arrombar-me a porta do quarto em que me escondi com os meus colegas e apontar-me uma arma à cara.