Dois anos e meio mais tarde, foi a vez do H testemunhar o casamento do D. Com o T, o “acordeonista”. Foi a cerimónia mais esperada e temida do ano. Esperada porque estávamos a ver que nunca mais desencalhavam do embróglio quem pede a quem em casamento (o D acabou por tomar as coisas em mão). Temida - porque o casamento de inenarráveis fascion victims põe uma certa pressão na indumentária dos convidados, sobretudo das mulheres a quem está aberto todo um mundo de tecidos, estilos, cortes, cores e acessórios. Simplicidade mas com sensualidade; excentricidade sem extravagância; feminilidade com confiança. Eram inúmeras as instruções e expectativas dos noivos. Ainda por cima com uma cerimónia em duas partes – de manhã e à noite – foi um duplo desafio indumentário - diurno e nocturno. Após meses de busca, missão cumprida pelo meu lado: o meu traje diurno foi um fluido vestido de cetim de cor champagne, sem mangas, assorti de um fabuloso “fascinator” – uma badolete com um arranjo de fitas e penas em altura, um chapéu não chapéu (excentricidade sem extravagância). E para a noite, num vestido trapézio de tafetá, às riscas verticais fininhas bege e douradas, que aperta ao pescoço, com uma faixa aberta costas abaixo (simplicidade mas com sensualidade). Tudo com uns sapatos de salto alto, cujo salto por um incrível milagre era um meio termo entre o agulha (que eu caio) e o tacão (que é feio), o que me permitiu usá-los e não sangrá-los (feminilidade com confiança).
O casamento foi no museu

A união foi depois abençoada por um padre protestante, já reformado, com um certo sentido de humor (ora bem estas alianças… costuma ser fácil reconhecer qual é a de quem pelo tamanho, mas aqui assim é mais complicado), para quem o amor é o amor seja entre quem for.
Já lá fora, nos jardins do museu, entre abelhas assassin

Depois houve uma pausa de umas horas. O H (cão!), VIP que é, foi degustar almoço com o casal e os pais do casal. Eu tive de andar Berlim abaixo e Berlim acima, porque o homem com quem me casei resolveu que tinha que comprar um smoking e tomou essa decisão no dia anterior às 6h da tarde, pelo que me sobrou a mim voltar ao alfaiate buscar o traje; e porque o homem com quem me casei jurou que jurou que tinha um noeud papillon em casa (olha que está em casa dos teus pais… não está não, eu trouxe-o de volta. Olha que não; está, está), mas não tinha nada, de maneira que tive que lhe ir comprar um novo mega-express. Feitas as voltas, vestida a indumentária nocturna voltámos todos ao museu para o jantar e a festa.
Como bom casamento alemão, este teve um número de sketchs e surpresas. Na entrada da sala de jantar acumulavam-se garrafas e garrafas de vinho – uma amiga tinha pedido aos convidados para escreverem uma receita de cozinha e trazerem uma garrafa de vinho para acompanhar a respectiva receita, de maneira a dar ao D e ao T um início de garrafeira. Do nosso lado foi Espargete Carbonara e uma garrafa de Esporão Reserva. Havia também a tradicional corda com postais pendurados, para serem mandados aos noivos em datas fixas, como houve no nosso casamento. Houve um slide show de fotos de infância do D e do T, muitas das quais, tendo sido tiradas nos anos 70 e 80, desvendavam calças de veludo cotelé douradas, fatos de treino brilhantes e cortes de cabelo verdadeiramente tenebrosos. Houve também um jogo em que os convidados receberam uma lista de frases e tinham que se levantar se essa frase se aplicasse a si próprios; o D e o T tinham que adivinhar qual era essa frase que todos os convidados levantados tinham em comum. “Estudei em Freiburg” foi fácil. Mais difícil e confuso, no entanto, foi “já vi o D ou o T nu” – já que ¾ da sala se levantou: os pais, claro, mas também ex-namorados e amigos fãs de sauna e de ginásio.
E como em todo o casamento alemão, houve discursos e o momento alto em que o pai do D, aristocrata octogenário, e o pai do T, mais novo mas oriundo de uma terra pequena, receberam de braços abertos o filho… e o marido do filho. Genuinamente e naturalmente.