O casamento do ano

Certa noite em Janeiro de 2006, o D veio jantar a nossa casa num xitex que ninguém o parava. Prática muito comum no mundo gay, o D tinha-se inscrito num website social gay há uns tempos. Nessa noite tinha acabado de e-conhecer um certo “acordeonista” que lhe e-deu a volta à e-cabeça. Entusiasmado, mostrou-nos a página do dito. Ia conhecê-lo em pessoa em breve. Nessa noite de Janeiro de 2006, D aceitou ser a testemunha do nosso casamento.
Dois anos e meio mais tarde, foi a vez do H testemunhar o casamento do D. Com o T, o “acordeonista”. Foi a cerimónia mais esperada e temida do ano. Esperada porque estávamos a ver que nunca mais desencalhavam do embróglio quem pede a quem em casamento (o D acabou por tomar as coisas em mão). Temida - porque o casamento de inenarráveis fascion victims põe uma certa pressão na indumentária dos convidados, sobretudo das mulheres a quem está aberto todo um mundo de tecidos, estilos, cortes, cores e acessórios. Simplicidade mas com sensualidade; excentricidade sem extravagância; feminilidade com confiança. Eram inúmeras as instruções e expectativas dos noivos. Ainda por cima com uma cerimónia em duas partes – de manhã e à noite – foi um duplo desafio indumentário - diurno e nocturno. Após meses de busca, missão cumprida pelo meu lado: o meu traje diurno foi um fluido vestido de cetim de cor champagne, sem mangas, assorti de um fabuloso “fascinator” – uma badolete com um arranjo de fitas e penas em altura, um chapéu não chapéu (excentricidade sem extravagância). E para a noite, num vestido trapézio de tafetá, às riscas verticais fininhas bege e douradas, que aperta ao pescoço, com uma faixa aberta costas abaixo (simplicidade mas com sensualidade). Tudo com uns sapatos de salto alto, cujo salto por um incrível milagre era um meio termo entre o agulha (que eu caio) e o tacão (que é feio), o que me permitiu usá-los e não sangrá-los (feminilidade com confiança).

O casamento foi no museu de arte contemporânea de Berlim. De manhã foi a cerimónia civil, que infelizmente não lhes dá muitos direitos, a não ser poderem ficar com o outro no hospital em caso de doença. Após a cerimónia, entrou sala adentro uma senhora grande grande, preta, preta, com um vestido magnífico vermelho. Era uma cantora de Gospel que os surpreendeu a cantar “all you need is love” dos Beatles a cappela.



A união foi depois abençoada por um padre protestante, já reformado, com um certo sentido de humor (ora bem estas alianças… costuma ser fácil reconhecer qual é a de quem pelo tamanho, mas aqui assim é mais complicado), para quem o amor é o amor seja entre quem for.








Já lá fora, nos jardins do museu, entre abelhas assassinas e flutas de champagne matinal cerebralmente enxovalhante, choveram pétalas de rosas das nossas mãos para cima do D e do T enquanto dançaram a primeira dança ao som de “Für dich soll’s rote Rosen regnen” – para ti devem chover rosas vermelhas - saído a custo do leitor de CD que o H arrastou consigo a manhã inteira.



Depois houve uma pausa de umas horas. O H (cão!), VIP que é, foi degustar almoço com o casal e os pais do casal. Eu tive de andar Berlim abaixo e Berlim acima, porque o homem com quem me casei resolveu que tinha que comprar um smoking e tomou essa decisão no dia anterior às 6h da tarde, pelo que me sobrou a mim voltar ao alfaiate buscar o traje; e porque o homem com quem me casei jurou que jurou que tinha um noeud papillon em casa (olha que está em casa dos teus pais… não está não, eu trouxe-o de volta. Olha que não; está, está), mas não tinha nada, de maneira que tive que lhe ir comprar um novo mega-express. Feitas as voltas, vestida a indumentária nocturna voltámos todos ao museu para o jantar e a festa.

Como bom casamento alemão, este teve um número de sketchs e surpresas. Na entrada da sala de jantar acumulavam-se garrafas e garrafas de vinho – uma amiga tinha pedido aos convidados para escreverem uma receita de cozinha e trazerem uma garrafa de vinho para acompanhar a respectiva receita, de maneira a dar ao D e ao T um início de garrafeira. Do nosso lado foi Espargete Carbonara e uma garrafa de Esporão Reserva. Havia também a tradicional corda com postais pendurados, para serem mandados aos noivos em datas fixas, como houve no nosso casamento. Houve um slide show de fotos de infância do D e do T, muitas das quais, tendo sido tiradas nos anos 70 e 80, desvendavam calças de veludo cotelé douradas, fatos de treino brilhantes e cortes de cabelo verdadeiramente tenebrosos. Houve também um jogo em que os convidados receberam uma lista de frases e tinham que se levantar se essa frase se aplicasse a si próprios; o D e o T tinham que adivinhar qual era essa frase que todos os convidados levantados tinham em comum. “Estudei em Freiburg” foi fácil. Mais difícil e confuso, no entanto, foi “já vi o D ou o T nu” – já que ¾ da sala se levantou: os pais, claro, mas também ex-namorados e amigos fãs de sauna e de ginásio.

E como em todo o casamento alemão, houve discursos e o momento alto em que o pai do D, aristocrata octogenário, e o pai do T, mais novo mas oriundo de uma terra pequena, receberam de braços abertos o filho… e o marido do filho. Genuinamente e naturalmente.

Quebra-cabeças

Em Madagascar, queremos visitar 4 sítios:

os baobabs, na costa Oeste





a praias de Nosy Be, no Norte





as baleias na ile Sainte Marie, na costa Este





trekking no parque nacional de Isalo, no Sul





Antananarivo, a capital de Madagascar, é o nosso ponto de partido porque tem um aeroporto. Antananarivo é no meio da ilha de Madagascar. Há uma estrada de Norte a Sul e uma estrada de Este a Oeste, o que seria um boa notícia, não fosse o facto da ilha ser do tamanho da França e do mapa mostrar partes dessas duas estradas a picotado.

Organizar o circuito em Madagascar é mais complicado do que organizar mesas para um casamento luso-alemão.